segunda-feira, 20 de maio de 2013

Happy hour.

Quando Roberto abriu a porta do apartamento, esvaziou os bolsos como de costume. Celular, carteira e chave do carro; colocou sobre um móvel da sala, mas manteve a carteira de cigarro e o isqueiro Bic na mão. Foi até a varanda. Seu time tinha sido eliminado, o que geralmente o teria deixado chateado, mas não estava pensando muito nisso. Só tinha em mente as últimas horas que passaram. Tentava lembrar passo a passo.

Engarrafamento. Trabalho. Almoço. Mais trabalho. Enfim, chopp com o pessoal do trabalho. Foi o segundo da firma a chegar no barzinho, Luísa, sua colega, foi a primeira. Roberto e Luísa nunca foram tão próximos, mas sempre trocavam palavras simpáticas quando se esbarravam no café da firma, as mesmas palavras que trocamos com um vizinho no elevador.

Sentou na mesa e começaram a conversar, entre um chopp e outro percebiam que tinham muito em comum. Demorou cerca de 40 minutos para se darem conta de que não tinha mais ninguém da firma chegando, e só quando ligou para Ricardinho, do almoxarifado, se deu conta que tinha marcado com o pessoal no Bar do Bigode, e não no Chopp do Careca. Roberto e Luísa riram, os dois tinham se enganado, mas pareciam não se importar. Resolveram continuar no Chopp do Careca.

Na hora de pagar a conta, Roberto insistiu em pagar sozinho, mas percebeu que se insistisse um pouco mais Luísa se sentiria ofendida. Racharam meio a meio. Na saída do bar, ele a acompanhou até o carro.

Quando ela destravou o alarme, Roberto a puxou pelo braço, de forma sutil. Talvez fosse o chopp falando mais alto, mas quando se deram conta os lábios um do outro já estavam próximos demais.

Na varanda, com um cigarro aceso, se lembrava da maneira que Luísa ajeitou uma mecha de cabelo para trás da orelha enquanto suas bocas se separavam daquele beijo. Era uma maneira meio envergonhada, com um sorriso inocente de criança que sabe que é errado passar o dedo na cobertura do bolo e mesmo assim o faz. Logo em seguida se despediram um do outro. Era uma mulher encantadora, bonita, que parecia ter algo nos olhos que simplesmente prendia sua atenção. Talvez estivesse apaixonado. "Puta que pariu", pensou.

- Oi, amor, foi bom lá com o pessoal? - perguntou Cláudia, sua esposa.

- O de sempre, meu bem, um bando de macho falando sobre futebol - respondeu Roberto, disfarçadamente colocando a aliança no dedo.

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