quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

ainda lembro daquele beijo
molhado de cerveja
e o meu cigarro já no filtro
quando a noite, recém nascida,
dava seus primeiros passos
para a tua epiderme se tornar o meu divã
e o teu perfume se tornar o meu ópio

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

sábado, 30 de novembro de 2013

entre o ontem e o hoje

tão cedo o sol nasceu
        expulsando as estrelas do céu
que a noite mais pareceu um suspiro de despedida
                     e o dia que se anunciava
                 era incerto como a vida
           e desejado como teus lábios

domingo, 3 de novembro de 2013

.uv ajeD

somos todos bêbados
   nos embriagamos
    com vinho barato,
                        religião,
                               ópio

           vendendo o cigarro do almoço
     para comprar o cigarro do jantar

           o destino
             é a falta de destino
e o caminho, por vezes torto,
          pode nos levar à mesma rua
                     às mesmas pessoas
                 às mesmas cagadas

somos todos bêbados
      suportando a embriaguez alheia
      suportando a própria existência
           (ou pelo menos tentando)

                            ~
                            ~
                            ~

terça-feira, 15 de outubro de 2013

domingo, 22 de setembro de 2013

Lexotan

o despertar da madrugada
nos confins da solidão
assusta o peso das pálpebras

           pois o silêncio da noite
               se quebra diante
        os gritos do pensamento

terça-feira, 17 de setembro de 2013

pandora

a esperança
                não
                   passa
                      de
                   uma ilusão
              esquecida
       numa caixa de mazelas

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

eau de vie

escrevo poemas
em guardanapos de papel
esperando outra dose
uísque barato, pouco gelo
                 vou abraçando a noite
                                sua brisa fria
                       me acaricia o rosto
         recebo os afagos da solidão
a amizade dos bêbados do centro
  e o amor de putas
   tão baratas quanto o meu uísque

                a sarjeta,
                  meu leito

terça-feira, 6 de agosto de 2013

pessimismo

pessimismo não é o copo meio vazio
pessimismo é estacionar no shopping
   e se dar conta que foi direto ao G3
          sem nem procurar vaga no G2

sábado, 3 de agosto de 2013

fugitivo

sou o que sou no instante agora
sem barco, sem remo, sem rumo
vindo das experiências de outrora
fugindo da pólvora e do chumbo

no meio da noite, no meio da mata
cachorros latindo em meus calcanhares
são eles vindo atrás de mim

sem água no mar, sem alma no corpo
armas carregadas, dedo no gatilho
preparar, apontar, fogo!
sem último desejo, sem último suspiro

Irmã Jurema

                                    ~

                   Fumo, mas não trago
               a pessoa amada em 3 dias.

                                    ~

quinta-feira, 25 de julho de 2013

na praia

na praia
ainda paira
aquele ar
de amor
de mar
de beijo salgado
um beijo roubado

as luzes do porto
e a brisa no rosto

no horizonte
um barco
sendo levado
pelo vento

na areia
nosso alento
que incendeia
o sentimento

terça-feira, 23 de julho de 2013

a vida, um filme

minha vida é um filme
  mas a única trilha sonora que ouço
                     é o barulho do trânsito
quando fumo um cigarro na varanda


segunda-feira, 15 de julho de 2013

ah, meus 20 anos...

o mundo ao redor está desmoronando
o caos estabelece uma nova ordem
            o ápice ainda não chegou
    mas sinto que vai chegar
        em breve

       depois as coisas podem melhorar
             ou talvez fique tudo do mesmo jeito
                      com os mesmos assuntos não resolvidos

        ou tudo pode acabar se tornando uma pneumonia
                    que surgiu de uma gripe mal curada
                             e que acabará dando um fim nisso tudo

então nos restarão as lembranças das merdas feitas ao longo do caminho
        a nostalgia de quando achávamos ter o mundo nas mãos

        e cada um vai seguir sua vida
            e vivenciar a monotonia cotidiana

             com o hoje se distanciando cada vez mais do ontem

terça-feira, 9 de julho de 2013

acendi um cigarro
observando a lua
sentado na areia
ouvindo as ondas
da maré enchendo
e no caos do pensar
tentei formar certa ordem
pedaços partidos de um todo
que começavam a fazer sentido
quando aquela velha canção tentava
nos mostrar o caminho que não seguimos

segunda-feira, 24 de junho de 2013

lembranças do interior

e lá estava seu zé e dona chica
        ela, costurando calças dos netos
        ele, ouvindo seu radinho de pilha
na calçada da cidade de pôr-do-sol tão belo

                       finzinho de tarde
                         futebol na pracinha
                    o cachorro pé duro que late
                 e a missa na igrejinha

quarta-feira, 12 de junho de 2013

sono dos orixás

quero fazer do mar
           uma rede pr'eu dormir
                        que a própria iemanjá
                      cante músicas de ninar
            enquanto yansã
                        me coloca a balançar

terça-feira, 11 de junho de 2013

mais um dia dos namorados

já estamos em junho
e ainda me pergunto
o que houve conosco
antes, caloroso
hoje, sem vida
e o que nos restou
apenas palavras frígidas
    eis o nosso amor

terça-feira, 4 de junho de 2013

abismo

fechei os olhos
  respirei fundo
       ao relento
 senti o mundo
   senti o vento
dei três passos
 abri os braços
e num segundo assim
         esperei meu fim

terça-feira, 28 de maio de 2013

dança dançar

dança
    dançar

 sem ritmo

       apenas com a sintonia

             não com a música
                 
                       mas com o outro corpo

                                 dança
                             dançar
                                samba

              dançar um bolero
                 dançar no chão
             dançar até no teto


segunda-feira, 27 de maio de 2013

utopia morta

pontas de cigarro
        esquecidas no chão
pessoas seguindo passos
perambulando em multidão
    olhos vendados pelo comodismo
       gargantas molhadas pela aguardente
    observando, tento me livrar disto
      pensando, tento clarear minha mente
                                  paro, desisto

                     já que não vou mudar o mundo
                       garçom,
                           outra cerveja!


quinta-feira, 23 de maio de 2013

cafajeste

                  vou roubar a lua
 colocar num anel e te pedir em casamento                              
    fazer promessas que não cumprirei
           vou dizer que te amo
                 mas como é frágil o meu amor...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Happy hour.

Quando Roberto abriu a porta do apartamento, esvaziou os bolsos como de costume. Celular, carteira e chave do carro; colocou sobre um móvel da sala, mas manteve a carteira de cigarro e o isqueiro Bic na mão. Foi até a varanda. Seu time tinha sido eliminado, o que geralmente o teria deixado chateado, mas não estava pensando muito nisso. Só tinha em mente as últimas horas que passaram. Tentava lembrar passo a passo.

Engarrafamento. Trabalho. Almoço. Mais trabalho. Enfim, chopp com o pessoal do trabalho. Foi o segundo da firma a chegar no barzinho, Luísa, sua colega, foi a primeira. Roberto e Luísa nunca foram tão próximos, mas sempre trocavam palavras simpáticas quando se esbarravam no café da firma, as mesmas palavras que trocamos com um vizinho no elevador.

Sentou na mesa e começaram a conversar, entre um chopp e outro percebiam que tinham muito em comum. Demorou cerca de 40 minutos para se darem conta de que não tinha mais ninguém da firma chegando, e só quando ligou para Ricardinho, do almoxarifado, se deu conta que tinha marcado com o pessoal no Bar do Bigode, e não no Chopp do Careca. Roberto e Luísa riram, os dois tinham se enganado, mas pareciam não se importar. Resolveram continuar no Chopp do Careca.

Na hora de pagar a conta, Roberto insistiu em pagar sozinho, mas percebeu que se insistisse um pouco mais Luísa se sentiria ofendida. Racharam meio a meio. Na saída do bar, ele a acompanhou até o carro.

Quando ela destravou o alarme, Roberto a puxou pelo braço, de forma sutil. Talvez fosse o chopp falando mais alto, mas quando se deram conta os lábios um do outro já estavam próximos demais.

Na varanda, com um cigarro aceso, se lembrava da maneira que Luísa ajeitou uma mecha de cabelo para trás da orelha enquanto suas bocas se separavam daquele beijo. Era uma maneira meio envergonhada, com um sorriso inocente de criança que sabe que é errado passar o dedo na cobertura do bolo e mesmo assim o faz. Logo em seguida se despediram um do outro. Era uma mulher encantadora, bonita, que parecia ter algo nos olhos que simplesmente prendia sua atenção. Talvez estivesse apaixonado. "Puta que pariu", pensou.

- Oi, amor, foi bom lá com o pessoal? - perguntou Cláudia, sua esposa.

- O de sempre, meu bem, um bando de macho falando sobre futebol - respondeu Roberto, disfarçadamente colocando a aliança no dedo.

domingo, 19 de maio de 2013

chuva

chuva
chove
  lava meu espírito
        chuva
        chove
             tira o cheiro dela de mim
                             chuva
                             chove
                                  leva as mágoas para longe
                                                chuva
                                                chove
                                                             c
                                                                h
                                                                   o
                                                                    v
                                                                      e

terça-feira, 14 de maio de 2013

vida, vento, vela

                                                            as
                                                         velas
                                                       saindo
                                                        do mucuripe
                                                        já não levam minhas
                                                          mágoas para as águas fundas do
                                                           mar
                          as velas do mucuripe levam a tristeza de seus pescadores
                                   para a labuta de cada dia, do sol em suas faces



                         navegar é preciso
                               viver não é preciso

                                        ~

domingo, 12 de maio de 2013

rotina

de todos os acasos
                  e de todos os casos
       entre um cigarro e outro
         no mesmo bar sujo
ainda é em você que penso
              e quanto mais tento esquecer
                                 mais ainda eu lembro
                                      mais ainda eu lamento
                                             mais ainda eu sofro

                           então minto para mim mesmo
                           digo que estou bem, finjo que acredito
                           acordo mais um dia
                           e levo a vida que tenho para levar

sexta-feira, 10 de maio de 2013

[in]paciência

se vou ser
        você
se vou ser
          nós
        não omita
     apenas diga
e ficamos a sós

quarta-feira, 8 de maio de 2013

o burocrático

pare aí, meu amigo
diga de onde vem, para onde vai
o que quer comigo
quem é tua mãe, quem é teu pai

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Clique!


Fotografar um momento é eternizar algo.

               Então resolvi fotografar seu rosto com meus olhos.

                    (eternizar nossos momentos em minha alma)

                                       

domingo, 5 de maio de 2013

utopia

uni-vos, trabalhadores do mundo!
contra cada patrão, cada explorador
que não passam de uns vagabundos
roubam nosso sangue, nosso suor, nossa dor

em minha alma, só haverá alegria
quando a verdadeira revolução acontecer
quando estiver em prática a utopia
da justiça, da liberdade e da egalité

que sejamos todos irmãos
nas lutas que acontencerão

mas enquanto a revolução não vem
vou pagando as contas no fim do mês
só de luz veio mais de cem
e a de água vence dia seis

fuga

cheiro de café
café quente
      alma fria
    calma agonia
       acender um cigarro
ascender uma idéia
   o furo do meu sapato
o portal para uma odisséia

o sol desvirginando a madrugada

    juventude
  aflora
juízo
  afora
          calor
               momento
       
                        a insegurança de um beijo roubado
                       
                                    a insegurança de uma incocência perdida

quinta-feira, 2 de maio de 2013

ebriedade

o copo está cheio
cheio de mágoas
         de incertezas
         de inseguranças

e você se sente aquela mesma criança
          brincando só, no mesmo quarto
           mas seus brinquedos agora são outros
                                                   são o vinho,
                                            o cigarro
   desilusões que ficaram no meio do caminho
           lembranças de um motel barato

                           e a vida que segue em frente
            sem se importar com o que você sente

sábado, 27 de abril de 2013

ópio para aguentar viver

'cê mente,
semente
só sente
na mente

lá, limbo
cá, chimbo
de chumbo
na chuva
moribundo
na luta
         (pois mais um dia amanhece)

Somos todos moribundos a partir do nosso nascimento, pois o rei e o escravo se igualam na morte: viemos despidos ao mundo e partiremos vestidos das lembranças do que vivemos.
                                                             (das merdas que fizemos)

                                 trago comigo os tragos de uma vida

quinta-feira, 25 de abril de 2013

lembranças sem nexo

  você
        eu
   nós
1 história
      2 corpos
            3 horas da manhã
       meras lembranças
 palavras sem nexo

quarta-feira, 24 de abril de 2013

inércia

observou o tempo passar
como quem espera o elevador
            apagou o cigarro
                 no café que esfriou


um beijo grego

quero um amor para chamar de calíope
que me faça escrever os mais belos versos
ou então um amor para chamar de eurídice
por quem eu seria capaz de ir até o inferno

                              ~


domingo, 21 de abril de 2013

sem remendo

e de todas aquelas lembranças
    de todos aqueles momentos
            já perdi as esperanças
   de algum dia achar remendo

                       ~

terça-feira, 16 de abril de 2013

canto

no mesmo canto
do quarto
ouço aquele canto
bem baixo

uma vozinha doce
da vizinha do lado
que toda noite
no silêncio do bairro
canta na varanda
para o céu estrelado
com a esperança
de assim, do nada
quem sabe um dia
poder ser amada

terça-feira, 9 de abril de 2013

Amanhecer.

O Sol começa a dar suas pinceladas
alaranjadas
no horizonte, dissipando a madrugada,
como o vento frio dissipa a fumaça
do meu cigarro.

Já presenciei a mesma cena tantas vezes,
tantas vezes vi o Sol nascer
que já nem está mais entre meus prazeres
observar o amanhecer.

De repente,
o que deveria ser uma linda paisagem
sente
que se torna apenas uma fotografia banal,
sem sal,
uma coisa crua
com postes iluminando a rua
e a cidade acordando
com o mesmo canto
dos pássaros,
dos carros.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

domingo, 7 de abril de 2013

horas passam


                       um isqueiro bic
                                 sem gás
              enquanto o relógio faz
                                                tic
                                                    tac

            (onde está minha paz?)


quinta-feira, 4 de abril de 2013

soneto

tentei fazer um soneto

            mas o soneto deu sono

                      tentei fazer umas rimas

                             fui escrevendo, fui pondo

                                      entediado, acendi meu cigarro

                                             prefiro escrever do meu jeito torto

                                                      só assim me sinto menos morto

segunda-feira, 1 de abril de 2013

sonholência


   não vejo a hora de                                                                      despertar
                                c                                                             dia
                                    a                                                    um
                                        i                                         sabe
                                            r                          quem
                                                no                e
                                                     son(h)o



(a)mar

linda cigana

você se engana

nesse nômade amor

pois no mar de amor

o oceano é paixão

ou se não, já chão

de um (a)mar que secou

insônia

são quatro da matina

                                e o mar atina

                                                   a vida para viver

                                                                          e o mar chama

                                               e acende a chama

                        do meu querer

domingo, 31 de março de 2013

Mais amores, por favor!

 há menos amores
 amenos amores

 ao menos, amores

café




                                          para ver se o tempo passa

                                                                 em passos menos curtos


                                                                                            vou passar um café


fugere urbem

multidões indiferentes atrevessando a calçada
tristezas salientes no olhar de pessoas bem arrumadas
pausa no expediente
para tomar um café com torrada

acendo meu cigarro
e observo
buzinas de carro
me preservo

terça-feira, 12 de março de 2013

Devaneios de uma madrugada tediosa.

Sinto saudade de quando a minha única preocupação era não perder o filme do Batman que passaria na Globo. Olho para trás e penso no garoto cheio de potencial que eu costumava ser; olho para frente e tenho medo de me tornar um desses hippies que vivem no Dragão do Mar pedindo dinheiro aos outros. “Crescer” não é bonito, é sujo. A consciência de como é o “mundo real” vem junto com o sentimento de nojo que é viver nele.

Posso dizer que algumas pessoas mudaram a minha vida. Sei que há gente que realmente gosta de mim, mas pergunto-me quem sentiria minha falta daqui a dez anos se eu morresse hoje, se eu ainda seria lembrado. Sei que quando eu morrer nada disso importará, mas é um pensamento que ainda assim me incomoda.

Às vezes a minha vontade é de jogar tudo para o alto. Nunca consegui imaginar como seria minha vida daqui a 5 anos, mas vejo-me infeliz. Tenho a impressão de que estou vivendo os melhores dias da minha vida: isso me entristece mais ainda. Só temos uma vida, se esses forem os melhores dias da minha existência, pergunto-me se vale mesmo a pena viver.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Linhas tortas.

Eu gostaria de ter um navio pirata. Quando as velas do Mucuripe saíssem para pescar, o meu navio sairia para saquear cidades e buscar tesouros. Por enquanto, vou imaginando que o balanço do ônibus é o balanço do mar.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Santa Maria.

Provavelmente é do conhecimento da maioria o incidente que houve na cidade gaúcha de Santa Maria. Parece que o Brasil todo se comoveu, até mesmo nossa presidenta derramou algumas lágrimas (se eram lágrimas sinceras, aí são outros quinhentos).

A questão é que não consigo sentir tanta empatia assim com o ocorrido. Morrem milhares de pessoas por dia pelas mais diversas causas e ninguém se importa, muito menos eu. Então por que eu deveria achar que um incêndio numa boate matando mais de 200 pessoas é o fim do mundo? Se fosse na minha cidade, com meus amigos, provavelmente eu até choraria e ficaria verdadeiramente de luto, mas foram só estranhos que nunca vi na vida.

Entendo a dor dos familiares das vítimas, sei como é perder alguém que se ama. Acontece que não me sinto na obrigação de sentir tristeza e demonstrá-la a todos apenas por falso moralismo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Fim de noite.

Em passos ébrios, entrou no quarto e fechou a porta.

Tirou do bolso uma carteira de Marlboro, só tinha um. O cigarro salvador que guardamos para quando chegarmos em casa, já meio amassado, mas ainda assim agradecemos aos céus por tê-lo.

Os primeiros raios de Sol começavam a invadir quarto através da janela de vidro. Começou a pensar se a noite realmente havia valido a pena.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Qual a tua arte?

Quem conhece Fortaleza sabe que o Dragão do Mar é uma boa pedida para aproveitar a ébria noite alencarina. Há varios bares e boates por lá, música de qualidade e cerveja gelada.

Não são raros os hippies e mendigos querendo vender pulseiras e pedindo dinheiro. Mas o que me chama a atenção é que boa parte desses "indigentes" - que muitas vezes são muito mais "gente" que alguns que dirigem carros importados - sempre tem uma boa história para contar.

Outro dia lá estava eu, num grupo de amigos, bebendo, sentado numa mesa de um carrinho que vendia bebida mais barata que nos bares. Então me aparece uma figura querendo vender pulseiras. Perguntei:

"Qual a tua arte?"

"Me dê um tema", ele disse.

"O céu".

Ele fez um rap-repente que me deixou impressionado. Passou uns 5 minutos improvisando e fazendo graça. Tinha talento o cara. Retribui com o que pude dentro das minhas condições de estudante de filosofia: o resto da minha dose de cachaça, um cigarro e dois reais. E o mais valioso: atenção.

A tantos outros quanto ele, deixo as palavras de Álvares de Azevedo:

Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz o meu peito blasfema,
É ter para escrever um poema,
E não ter um vintém para uma vela.