caixa sobre caixa
pessoas vivendo em caixas
com olhos grudados em caixas
caixa
sobre
caixa
jaula
sobre
jaula
com olhos grudados em jaulas
pessoas vivendo em jaulas
jaula sobre jaula
(há uma janela em minha jaula
de onde vejo o sol nascer
e assim alimento minha ilusão
de ser livre)
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Amor que fica.
Eu já contei a história de como conheci sua mãe. De como fomos colegas de escola e acabei a reencontrando dez anos depois, e de como me apaixonei de cara já na primeira vez que a vi. Ela sempre teve esse jeitinho protetor que encantava. Aquele jeito de ajeitar meus óculos quando eles estavam caídos na ponta do nariz, sempre querendo me impedir de fazer merda. Mas eu nunca fui um santo, meu filho, e você sabe disso, tive algumas outras mulheres antes da sua mãe, mas me apaixonar por outra mulher, me apaixonar mesmo, acho que só aconteceu uma vez. Foi quando eu estava na faculdade e ainda era um estudante sem um centavo no bolso. Havia, naquela época, lá pelo Bairro dos A******, uma casa de massagem que era bastante conhecida pela região… sim, casa de massagem é um eufemismo para puteiro, você já não é mais nenhuma criança e por isso estou contando essa história, agora escute. Enfim, alguns dos meus colegas, que geralmente tinham mais dinheiro que eu, costumavam ir com certa frequência, e vez ou outra eu acabava acompanhando só para tomar umas e outras. Eis que, certa vez, acabo me deparando com ela. Lembro como se fosse ontem. Lá estava eu, sentado, falando sobre o gol do Corinthians anulado injustamente no jogo do dia anterior, quando me aparece aquela negona de supetão no meio do bar. Ela tinha cerca de um metro e setenta e ficava mais alta com aqueles saltos. Usava um vestido curtinho, com o cabelo bastante cacheado batendo naquela bunda de fazer inveja a qualquer funkeira dessas que aparece na televisão hoje em dia. Tinha uma cintura que parecia ter sido esculpida pelos deuses. Assim que ela entrou no meu campo de visão, já não conseguia mais nem lembrar do gol do Corinthians que havia sido anulado. Devo ter passado uns dez segundos em transe, boquiaberto, e só fui voltar a mim quando um colega começou a me cutucar o braço perguntando o que eu tinha. Como outras noites ali, claro que eu só tinha o dinheiro da minha parte da cerveja e não podia me dar ao luxo levá-la para o quarto. Acabei saindo pouco tempo depois, e durante as duas semanas seguintes eu só conseguia pensar naquela mulher que eu sequer sabia o nome. Tudo o que eu mais queria, durante aquelas duas semanas, era poder tê-la em meus braços, e a possibilidade de poder possuir aquela mulher em uma cama me obrigou a fazer o que qualquer homem sensato faria: economizar dinheiro para poder voltar lá. E assim, com o fim de duas semanas, finalmente soube seu nome, e finalmente tinha o dinheiro para passar uma noite inteira com ela. Ela se chamava Juliana, e até hoje me pergunto como eu conseguia ficar de pé com as minhas pernas tremendo daquele jeito, de tanto nervosismo, enquanto ela abria a porta do quarto. Aquela mulher tinha o sorriso mais lindo que já vi em toda a minha vida. E passamos a noite toda trancados naquele quarto. Quando eu cheguei devia ser umas oito da noite, no começo do expediente, e quando saí era quase de manhã. E quer saber o que foi engraçado? É que passamos a noite toda conversando, rindo, falando besteira, falando da vida. Nem sequer tiramos a roupa. Ela era da Bahia e não tinha dois meses que estava na cidade. E as semanas que se seguiram depois dali foram, talvez, um dos períodos mais felizes da minha vida. Eu cansei de pegá-la para ir ao cinema depois que ela saía do trabalho, para você ter ideia. Óbvio que eu cheguei a comer depois, e como eu era um estudante liso, ela que geralmente pagava o motel, e devo confessar que foram as trepadas mais sensacionais que já tive na vida, de fazer inveja a Deus e ao Diabo. Mas, como tudo na vida, acaba dando merda uma hora. E o dia da merda acontecer acabou chegando. Certa vez apareceu um capitão de polícia no cabaré, que pelo visto também se apaixonou por ela. Disseram que assim que ele bateu o olho nela, já levou para o quarto. Só que o filho da puta era um cavalo, e a maneira de expressar sua paixão foi dando uma surra nela. Uma das colegas dela que veio me chamar quando a coitada da Juliana foi hospitalizada. A raiva me subiu a cabeça quando me contaram a história inteira, tive vontade de arranjar uma arma e ir atrás do animal que havia feito isso, e quase arranjei, mas acho que um surto de consciência me veio à cabeça, e junto com ele uma das piores sensações que já senti em toda a minha vida, dessas que parece castrar qualquer homem, o de se sentir impotente, de não poder proteger a mulher que está ali do seu lado e saber que quem a machucou continuaria sua vida como se nada tivesse acontecido, como se aquele tivesse sido só mais um dia sem importância. Afinal de contas, o infeliz era capitão da polícia com mais de sete mortes nas costas e eu era só um estudante de direito sem um centavo no bolso. Ainda fui atrás de falar com o tio de um colega que também era policial e conhecia o tal capitão. Sabe o que ele me disse? Que o capitão era um dos homens mais honestos da corporação, que nunca havia chegado atrasado e que sabia como ir atrás dos vagabundos, o filho da puta era temido e intocável. Ela recebeu alta três dias depois, e durante esses três dias não saí do lado dela. A coitada ficou tão assustada, tão traumatizada, que assim que melhorou voltou para a Bahia. Foi com lágrimas nos olhos que ela se despediu de mim, pedindo para visitá-la assim que eu pudesse. Prometi que iria, mas a verdade é que nunca fui, talvez pela vergonha de encará-la depois de me sentir tão covarde por não ter feito nada. Ainda trocamos algumas cartas, e no fim das contas ela acabou se casando por lá e nunca mais tive notícias. Acho ela nunca me perdoou pela minha covardia. Não a covardia de não ter feito nada contra o capitão, mas a covardia de não conseguir olhá-la nos olhos depois de tudo isso.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
versos do subsolo
faço do mundo que me cerca
uma faca cega
que rasga lentamente minhas veias
e faz jorrar a poesia que nelas corre
derramo meus versos tortos
sobre chão onde piso
para pintar minhas pegadas púrpuras
no abismo
da
existência
uma faca cega
que rasga lentamente minhas veias
e faz jorrar a poesia que nelas corre
derramo meus versos tortos
sobre chão onde piso
para pintar minhas pegadas púrpuras
no abismo
da
existência
terça-feira, 30 de setembro de 2014
eu não preciso de você
eu não preciso de você
eu estou bem
quando você está longe
e você nunca será
a razão do meu viver
eu não preciso de você
mas fico tão melhor
quando você está comigo
e viver fica tão mais agradável
com você do meu lado
eu não preciso de você
mesmo quando eu não sou o cara mais bonito
nem mesmo o mais inteligente
mas eu me sinto o cara mais foda do mundo
só por saber que você está por perto
e que se importa comigo
eu não preciso de você
mas eu quero o seu perfume
no ar que eu respiro
eu não preciso de você
mas eu quero o seu afago
nas minhas noites insones
eu não preciso de você
mas eu quero você
eu estou bem
quando você está longe
e você nunca será
a razão do meu viver
eu não preciso de você
mas fico tão melhor
quando você está comigo
e viver fica tão mais agradável
com você do meu lado
eu não preciso de você
mesmo quando eu não sou o cara mais bonito
nem mesmo o mais inteligente
mas eu me sinto o cara mais foda do mundo
só por saber que você está por perto
e que se importa comigo
eu não preciso de você
mas eu quero o seu perfume
no ar que eu respiro
eu não preciso de você
mas eu quero o seu afago
nas minhas noites insones
eu não preciso de você
mas eu quero você
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
quinta-feira, 10 de julho de 2014
ícaro
imensas muralhas de pedra
formam os corredores de um labirinto
um labirinto chamado desespero
nos corredores de desespero
ainda ecoam gritos de outrora
ecoarão eternamente
sem achar saída
dentro desse labirinto
mora um demônio
seu nome é esperança
esperança sussurra baixo
no ouvido das pobres almas:
"há uma saída", diz com voz doce,
"basta olhar para o céu acima de desespero"
quinta-feira, 19 de junho de 2014
poesia requentada
a poesia
está para o amor
como o café
está para uma noite insone
pisou na merda?
abre os dedos
está para o amor
como o café
está para uma noite insone
pisou na merda?
abre os dedos
sábado, 7 de junho de 2014
No engarrafamento.
O sol do meio-dia banhava a cidade. Preso em seu carro, preso no engarrafamento, junto a tantas outras almas voltando ao trabalho depois do horário do almoço, observava os números e as letras das placas dos outros carros dançando através do calor que emergia do chão. Seu ar-condicionado estava quebrado, e se arrependia amargamente por não ter ido à oficina três dias atrás - quando tinha tempo - consertar. Agora sofria as consequências disso experimentando a sensação de estar dentro de um forno. Sentia o suor brotando em pequenas gotas no nariz e na testa, escorrendo sob suas axilas. Temia ficar fedido a suor, a ideia de ser percebido dentro de um ambiente fechado pelo mal cheiro que exalava lhe causava arrepios. "Vão perceber que estou fedendo, que o fedor vem de mim", pensava.
O sinal abriu, alguns carros passaram, se tornou amarelo e depois voltou a ficar vermelho. Ainda demoraria muito para poder sair dali? Seria uma batida mais na frente não permitindo o trânsito fluir mais rápido? Ou seria o calor fazendo o tempo passar mais devagar? Nem o calor, nem o tempo e nem o trânsito passavam. Já havia desistido de achar no rádio alguma estação que lhe agradasse, era como se estivesse fadado a viver cada segundo arrastado daquele engarrafamento em sua plenitude. Pensou na morte e em como era um jeito fácil de resolver todo e qualquer problema: se morresse ali mesmo, jamais teria que suportar mais nenhum engarrafamento, nenhuma reclamação do seu chefe por ter chegado atrasado ou sequer se preocupar se estaria com cheiro de suor ou não.
Lembrou-se das palavras de seu pai: "Faça uma faculdade, se forme, arranje um bom emprego e depois se case". Depois de sua pós-graduação, o máximo que conseguiu foi um emprego razoável, com um salário razoável para manter seu padrão de vida razoável. Até sua esposa era razoável, mas o que mais lhe incomodava no momento era o ar-condicionado quebrado do carro também razoável. Agora ia todos os dias trabalhar para pagar o colégio particular dos filhos (que não estava barato) e poder viajar para Orlando nas férias. E todos os dias que ia trabalhar eram a mesma coisa, o mesmo engarrafamento, o mesmo escritório, o mesmo chefe. De súbito um pensamento lhe causou uma náusea que pareceu sentir em sua alma: estava vivo, existia, e se morrer fosse a solução para todos os problemas, se deixar de estar vivo fosse a solução mais rápida, então os elementos de sua existência se resumiam a tudo isso que tanto lhe causava irritação e desgosto pela própria vida. Sua mão era a extensão do seu ser, do seu corpo, como estar naquele engarrafamento com o ar-condicionado quebrado era uma extensão da sua existência, do conjunto de escolhas que o levaram até ali, até aquele momento.
Sinal verde.
O sinal abriu, alguns carros passaram, se tornou amarelo e depois voltou a ficar vermelho. Ainda demoraria muito para poder sair dali? Seria uma batida mais na frente não permitindo o trânsito fluir mais rápido? Ou seria o calor fazendo o tempo passar mais devagar? Nem o calor, nem o tempo e nem o trânsito passavam. Já havia desistido de achar no rádio alguma estação que lhe agradasse, era como se estivesse fadado a viver cada segundo arrastado daquele engarrafamento em sua plenitude. Pensou na morte e em como era um jeito fácil de resolver todo e qualquer problema: se morresse ali mesmo, jamais teria que suportar mais nenhum engarrafamento, nenhuma reclamação do seu chefe por ter chegado atrasado ou sequer se preocupar se estaria com cheiro de suor ou não.
Lembrou-se das palavras de seu pai: "Faça uma faculdade, se forme, arranje um bom emprego e depois se case". Depois de sua pós-graduação, o máximo que conseguiu foi um emprego razoável, com um salário razoável para manter seu padrão de vida razoável. Até sua esposa era razoável, mas o que mais lhe incomodava no momento era o ar-condicionado quebrado do carro também razoável. Agora ia todos os dias trabalhar para pagar o colégio particular dos filhos (que não estava barato) e poder viajar para Orlando nas férias. E todos os dias que ia trabalhar eram a mesma coisa, o mesmo engarrafamento, o mesmo escritório, o mesmo chefe. De súbito um pensamento lhe causou uma náusea que pareceu sentir em sua alma: estava vivo, existia, e se morrer fosse a solução para todos os problemas, se deixar de estar vivo fosse a solução mais rápida, então os elementos de sua existência se resumiam a tudo isso que tanto lhe causava irritação e desgosto pela própria vida. Sua mão era a extensão do seu ser, do seu corpo, como estar naquele engarrafamento com o ar-condicionado quebrado era uma extensão da sua existência, do conjunto de escolhas que o levaram até ali, até aquele momento.
Sinal verde.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
assum preto (homenagem a Bukowski)
há um assum preto
dentro de mim
ele se debate
tenta fugir
e eu o engulo de volta
seus olhos furados
não enxergam
a escuridão da sua gaiola
seu canto triste
não pode ser ouvido
mas ele canta
e seu canto me preenche
já que não pode preencher as ruas
nem os becos
nem os bares
eu o afogo com vinho barato
o sufoco com fumaça
mas ele resiste
ele me odeia
mas eu também o odeio
e como num casamento infeliz
amamos nos odiar
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
dentro de mim
ele se debate
tenta fugir
e eu o engulo de volta
seus olhos furados
não enxergam
a escuridão da sua gaiola
seu canto triste
não pode ser ouvido
mas ele canta
e seu canto me preenche
já que não pode preencher as ruas
nem os becos
nem os bares
eu o afogo com vinho barato
o sufoco com fumaça
mas ele resiste
ele me odeia
mas eu também o odeio
e como num casamento infeliz
amamos nos odiar
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
sábado, 29 de março de 2014
segundos
já não somos os mesmos
de um segundo atrás
a cada segundo acontece uma vida
um beijo
uma paixão
um amor
que mudará quem somos
e em nossa essência
ainda carregamos quem fomos um segundo atrás
e quem seremos no segundo que há de vir
de um segundo atrás
a cada segundo acontece uma vida
um beijo
uma paixão
um amor
que mudará quem somos
e em nossa essência
ainda carregamos quem fomos um segundo atrás
e quem seremos no segundo que há de vir
terça-feira, 25 de março de 2014
Hoje.
Hoy.
Aujourd'hui.
Heute.
Oggi.
Today.
Vandag.
Hodie.
Namuhla.
Heddiw.
Sot.
Símera.
Danas.
Não importa onde.
Aujourd'hui.
Heute.
Oggi.
Today.
Vandag.
Hodie.
Namuhla.
Heddiw.
Sot.
Símera.
Danas.
Não importa onde.
sábado, 15 de março de 2014
Cântico Negro (José Régio)
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
quinta-feira, 13 de março de 2014
ser, sou
sou metade
sou metamorfose
sou parte do mundo
sou o ontem
sou o hoje
sou o amanhã
sou a terra
sou o vento
sou um punhado de versos
invertidos na alma
sou a pena e o papel
a tinta e o tinteiro
sou o que fui fui o que sou
sou o que sou sou o que sou
sou o que serei serei o que sou
sou metamorfose
sou parte do mundo
sou o ontem
sou o hoje
sou o amanhã
sou a terra
sou o vento
sou um punhado de versos
invertidos na alma
sou a pena e o papel
a tinta e o tinteiro
sou o que fui fui o que sou
sou o que sou sou o que sou
sou o que serei serei o que sou
terça-feira, 11 de março de 2014
Capitu, teus olhos.
E de longe eu te observo. E observo teus
olhos de Capitu e observo quando sou observado por ti. Nos olhamos de
longe, cujo o único obstáculo é o vácuo e o silêncio e os teus olhos de
Capitu. E a teus olhos de Capitu penso em me entregar, para que eles me
observem mais de perto, cada poro do meu rosto, cada fio da minha barba.
Quero sentir o gosto dos teus lábios e o gosto do teu pescoço, quero
esculpir uma Vênus na argila da tua carne, modelar com minhas mãos cada
milímetro da tua epiderme enquanto te sussurro mentiras no ouvido em
forma de verso.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
domingo, 16 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Ricardo, o alcoólatra.
Quando bêbado, Ricardo sempre achava que devia beber mais, que a garrafa de vinho tinto barato seria derrubada antes que ele. Quando bêbado, Ricardo jamais pensava na ressaca que isso lhe causaria - afinal de contas, estava bêbado! -, que a noite continuava sendo uma criança e que estava longe de acabar, mesmo quando o sol começava a dar bom dia.
O problema é que a ressaca sempre chegava, e com ela a lembrança das merdas que se permitiu fazer. Quando sóbrio, Ricardo jurava a deus e ao mundo que pararia de beber, tinha a cara de pau de prometer até a si mesmo que nunca mais colocaria uma gota de álcool na boca. Mas era Ricardo, o bêbado, e todos sabiam o que ele faria a seguir.
Sua bebida preferida, apesar de beber todas, era o uísque. A ressaca não era tão grande, mas em compensação o uísque tinha um poder muito mais destruidor. Ricardo, quando bebia uísque, fazia coisas que jamais faria se estivesse bebendo vinho ou cerveja, ele perdia a noção de si e de ser.
Todos julgavam, mas ninguém tentava se colocar no lugar de Ricardo. Ninguém poderia saber o quão entediante a vida pode se tornar, ele bebia apenas para aproveitar a vida. Pelo menos era o que dizia para o garçom enquanto este lhe servia outra dose, e mesmo tentando ser sincero, ele sabia que sua necessidade era maior que sua vontade
Ricardo bebia quando estava triste, e ficava triste porque estava bebendo, e quando bêbado ele não conseguia inventar desculpas para si mesmo para justificar por que precisava tanto de um copo de cerveja. Lembrava-se de quando era adolescente e se gabava por dizer o quanto havia bebido no final de semana anterior, agora sentia vergonha quando algum conhecido o encontrava em algum bar.
Ricardo não amava a bebida, amava estar bêbado, e se odiava por isso.
O problema é que a ressaca sempre chegava, e com ela a lembrança das merdas que se permitiu fazer. Quando sóbrio, Ricardo jurava a deus e ao mundo que pararia de beber, tinha a cara de pau de prometer até a si mesmo que nunca mais colocaria uma gota de álcool na boca. Mas era Ricardo, o bêbado, e todos sabiam o que ele faria a seguir.
Sua bebida preferida, apesar de beber todas, era o uísque. A ressaca não era tão grande, mas em compensação o uísque tinha um poder muito mais destruidor. Ricardo, quando bebia uísque, fazia coisas que jamais faria se estivesse bebendo vinho ou cerveja, ele perdia a noção de si e de ser.
Todos julgavam, mas ninguém tentava se colocar no lugar de Ricardo. Ninguém poderia saber o quão entediante a vida pode se tornar, ele bebia apenas para aproveitar a vida. Pelo menos era o que dizia para o garçom enquanto este lhe servia outra dose, e mesmo tentando ser sincero, ele sabia que sua necessidade era maior que sua vontade
Ricardo bebia quando estava triste, e ficava triste porque estava bebendo, e quando bêbado ele não conseguia inventar desculpas para si mesmo para justificar por que precisava tanto de um copo de cerveja. Lembrava-se de quando era adolescente e se gabava por dizer o quanto havia bebido no final de semana anterior, agora sentia vergonha quando algum conhecido o encontrava em algum bar.
Ricardo não amava a bebida, amava estar bêbado, e se odiava por isso.
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
o menino que queria roubar a lua
o menino queria roubar a lua
e colocar no bolso
junto com suas bolinhas de gude
mas por mais que ele esticasse a mão
seus dedos continuavam distantes
enquanto a lua desaparecia no horizonte
quando o sol nasceu
o menino já não queria roubar a lua
e o menino já não era mais menino
e a lua continuava sendo a lua
e colocar no bolso
junto com suas bolinhas de gude
mas por mais que ele esticasse a mão
seus dedos continuavam distantes
enquanto a lua desaparecia no horizonte
quando o sol nasceu
o menino já não queria roubar a lua
e o menino já não era mais menino
e a lua continuava sendo a lua
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