terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Santa Maria.

Provavelmente é do conhecimento da maioria o incidente que houve na cidade gaúcha de Santa Maria. Parece que o Brasil todo se comoveu, até mesmo nossa presidenta derramou algumas lágrimas (se eram lágrimas sinceras, aí são outros quinhentos).

A questão é que não consigo sentir tanta empatia assim com o ocorrido. Morrem milhares de pessoas por dia pelas mais diversas causas e ninguém se importa, muito menos eu. Então por que eu deveria achar que um incêndio numa boate matando mais de 200 pessoas é o fim do mundo? Se fosse na minha cidade, com meus amigos, provavelmente eu até choraria e ficaria verdadeiramente de luto, mas foram só estranhos que nunca vi na vida.

Entendo a dor dos familiares das vítimas, sei como é perder alguém que se ama. Acontece que não me sinto na obrigação de sentir tristeza e demonstrá-la a todos apenas por falso moralismo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Fim de noite.

Em passos ébrios, entrou no quarto e fechou a porta.

Tirou do bolso uma carteira de Marlboro, só tinha um. O cigarro salvador que guardamos para quando chegarmos em casa, já meio amassado, mas ainda assim agradecemos aos céus por tê-lo.

Os primeiros raios de Sol começavam a invadir quarto através da janela de vidro. Começou a pensar se a noite realmente havia valido a pena.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Qual a tua arte?

Quem conhece Fortaleza sabe que o Dragão do Mar é uma boa pedida para aproveitar a ébria noite alencarina. Há varios bares e boates por lá, música de qualidade e cerveja gelada.

Não são raros os hippies e mendigos querendo vender pulseiras e pedindo dinheiro. Mas o que me chama a atenção é que boa parte desses "indigentes" - que muitas vezes são muito mais "gente" que alguns que dirigem carros importados - sempre tem uma boa história para contar.

Outro dia lá estava eu, num grupo de amigos, bebendo, sentado numa mesa de um carrinho que vendia bebida mais barata que nos bares. Então me aparece uma figura querendo vender pulseiras. Perguntei:

"Qual a tua arte?"

"Me dê um tema", ele disse.

"O céu".

Ele fez um rap-repente que me deixou impressionado. Passou uns 5 minutos improvisando e fazendo graça. Tinha talento o cara. Retribui com o que pude dentro das minhas condições de estudante de filosofia: o resto da minha dose de cachaça, um cigarro e dois reais. E o mais valioso: atenção.

A tantos outros quanto ele, deixo as palavras de Álvares de Azevedo:

Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz o meu peito blasfema,
É ter para escrever um poema,
E não ter um vintém para uma vela.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Angústia.

Não importava quantas colheres de açúcar colocasse no café, ele continuaria amargo. Talvez o problema não fosse o café ou o açúcar, talvez o problema não fosse seu time ter perdido ou o preço da carteira de cigarro ter aumentado. Talvez o problema fosse consigo.

Dizem que o tempo coloca tudo em seu devido lugar. Jamais acreditou nisso, a única coisa que o tempo coloca são cabelos brancos em sua cabeça.

Abria a parte de política do jornal e já não se importava mais com isso. O pó de seus livros velhos ainda o acompanhava, mas já não valia a pena continuar apaixonado por ideologias antigas, utopias que não passam de utopias.

Observar o mundo através de uma caixa de imagens era entediante, embriagar-se com aguardente já era banal. Não sentia mais prazer ao ter o calor de outro corpo em seus braços. Respirar continuava cada vez mais doloroso.

A chuva fina batia na janela de vidro do seu quarto. Seu despertador tocava.

Hora de acordar.

Hora de viver mais um dia.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Doce desespero.

A cidade está morta; e como um peso morto ela me cansa. As pessoas me saturam, trazem suas complicações e contaminam o meu mundo. Um mundo já tão contaminado com meus medos, minhas inseguranças, minhas angústias. Hoje estou bem, amanhã posso explodir.

Quero me isolar de tudo e de todos. Nem que por alguns minutos quero me isolar da mesmice cotidiana, do tédio que consome o meu dia-a-dia, minha juventude, meus conceitos. Quero fugir para a solidão acompanhado da minha loucura.

Certa vez uma cigana leu a minha mão, disse que eu morreria cedo. Acendi um cigarro e esperei a morte chegar.

(Ainda espero.)

domingo, 18 de novembro de 2012

O melhor cigarro.

O melhor cigarro é aquele que você acende com o corpo ainda suado, as pernas trêmulas. Quando o sabor de outra pele ainda repousa em sua boca. Quando o tato dá lugar à razão, a mente está vazia e o coração  acelerado. Um sorriso ofegante, dando cada tragada como se fosse única, mas sem pressa. Aquele momento em que você consegue esquecer que o mundo lá fora está desabando.

sábado, 17 de novembro de 2012

Busca.

Acendeu o primeiro cigarro da madrugada, guardou o isqueiro Bic no bolso e colocou para tocar um LP do Belchior. Soltou a fumaça pela janela do quarto, observando a rua sem movimento e buscando na memória boas lembranças para não se jogar do oitavo andar.

(Talvez o suicídio fosse mesmo a única grande questão filosófica)