Pegou a chave do carro e uma carteira de Marlboro.
A estrada parecia curta, dirigia a 140km/h no meio da madrugada. Uma hora e meio litro de uísque depois, ouvindo Rammstein no volume máximo, chegou à fazenda do avô. Teve momentos felizes ali, agora a casa grande estava abandonada, praticamente em ruínas.
Foi fácil arrombar a porta de madeira. Não havia luz, procurou algumas velas e acendeu todas. Cheirou cinco gramas de cocaína. Só tinha mais três cigarros.
Achou alguns remédios vencidos no banheiro, tomou alguns. A garrafa de uísque já estava quase no fim. Pegou o antigo rifle do seu tio que sempre ficava em baixo da cama, a caixa de munição estava numa cômoda.
Sentou numa cadeira, colocou a boca no cano do rifle e apertou o gatilho com o dedão do pé.
(Por que ele fez isso?)
sábado, 22 de setembro de 2012
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Diante do fim.
Eu caminhava pela calçada quando senti um cutucão no ombro, seguido de uma voz falando: "ei, doutor, me salva um careta?". Respirei fundo, não se aborda ninguém por trás. Pensei por uma fração de segundo, meti a mão no bolso para tirar minha carteira de Marlboro e me virei para trás. O rapaz não deveria ter mais do que 15 anos, era muito magro e a arma que segurava apontando para a minha cabeça parecia ser mais pesada do que ele poderia aguentar.
"Calma", pensei comigo mesmo.
Geralmente, quando caminho só, costumo indagar sobre essas questões existenciais, o sentido da vida, de onde viemos e essa porra toda. É bem como quando fazemos discursos imaginários no espelho do banheiro, nos sentindo Lênin falando para milhares de pessoas prestes a começar uma revolução.
Por algum motivo - talvez por ter uma arma apontada à minha cabeça -, "a vida passou diante dos meus olhos". Eu só conseguia pensar no livro eu que não havia terminado de ler, na trilogia do De Volta Para o Futuro que eu ainda não tinha deixado na locadora, no lixo que eu não tinha colocado para fora (Lúcia ia me matar se o lixo não estivesse fora à noite).
Nas minhas caminhadas pensativas, eu nunca tive idéias tão desesperadoras, calmas e racionais como naquela fração de segundo em que eu tinha uma overdose de pensamentos com um moleque me apontando uma arma.
Pensei em como seria morrer, se eu sentiria alguma dor, se alguém ainda se lembraria de mim daqui a dez anos. Indaguei se Deus realmente existia, não senti vontade de rezar ou de clamar piedade divina, apenas me perguntei como seria o mundo sem mim. Cheguei à conclusão de que seria o mesmo, de o quanto a morte é banal e comum quando se trata dos outros, mas tão importante quando é a nossa. Somos egocêntricos e nos importamos mais com nós mesmos: não que isso seja um defeito, é apenas ser humano.
O que mais me chateava era saber que tudo continuaria como sempre, que poucas pessoas lamentariam de verdade a minha morte, que a festa seguiria sem mim. Mas não havia outra escolha senão aceitar o que seria inevitável.
"Bora, caralho, me passa logo a porra desse cigarro", agora não havia mais doutor em sua frase, seu lábio superior estava levemente contraído e seus olhos expressavam raiva.
Tirei a carteira de cigarro do bolso e entreguei a ele. Ele pegou, deu meia volta e saiu apressado.
Fiquei lá, aliviado por estar vivo, mas desesperado por continuar respirando após as indagações que haviam surgido naquele instante diante do fim.
"Calma", pensei comigo mesmo.
Geralmente, quando caminho só, costumo indagar sobre essas questões existenciais, o sentido da vida, de onde viemos e essa porra toda. É bem como quando fazemos discursos imaginários no espelho do banheiro, nos sentindo Lênin falando para milhares de pessoas prestes a começar uma revolução.
Por algum motivo - talvez por ter uma arma apontada à minha cabeça -, "a vida passou diante dos meus olhos". Eu só conseguia pensar no livro eu que não havia terminado de ler, na trilogia do De Volta Para o Futuro que eu ainda não tinha deixado na locadora, no lixo que eu não tinha colocado para fora (Lúcia ia me matar se o lixo não estivesse fora à noite).
Nas minhas caminhadas pensativas, eu nunca tive idéias tão desesperadoras, calmas e racionais como naquela fração de segundo em que eu tinha uma overdose de pensamentos com um moleque me apontando uma arma.
Pensei em como seria morrer, se eu sentiria alguma dor, se alguém ainda se lembraria de mim daqui a dez anos. Indaguei se Deus realmente existia, não senti vontade de rezar ou de clamar piedade divina, apenas me perguntei como seria o mundo sem mim. Cheguei à conclusão de que seria o mesmo, de o quanto a morte é banal e comum quando se trata dos outros, mas tão importante quando é a nossa. Somos egocêntricos e nos importamos mais com nós mesmos: não que isso seja um defeito, é apenas ser humano.
O que mais me chateava era saber que tudo continuaria como sempre, que poucas pessoas lamentariam de verdade a minha morte, que a festa seguiria sem mim. Mas não havia outra escolha senão aceitar o que seria inevitável.
"Bora, caralho, me passa logo a porra desse cigarro", agora não havia mais doutor em sua frase, seu lábio superior estava levemente contraído e seus olhos expressavam raiva.
Tirei a carteira de cigarro do bolso e entreguei a ele. Ele pegou, deu meia volta e saiu apressado.
Fiquei lá, aliviado por estar vivo, mas desesperado por continuar respirando após as indagações que haviam surgido naquele instante diante do fim.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Breve ensaio sobre a vida
Convido a madrugada para entrar, para fazer companhia à minha solidão. Minha carteira de cigarro está vazia, bem como minh'alma. A tristeza do meu ser não está ligada ao fato de estar só, mas de amargurar o fardo que é pensar.
(Usarei a primeira pessoa do plural agora, caso não se importe, pois suponho que você, assim como eu, também pense)
Procuramos desesperadamente o sentido da vida, razões para continuar respirando. O instinto de sobrevivência nos impede de pular da janela do 13º andar. (Pergunto-me quem sentiria falta caso eu o fizesse). O fato de nascer é um peso em nossas costas, pois com ele temos que viver, e se estamos vivos temos que morrer.
O religioso se apega a deus: o verdadeiro religioso - aquele que é apenas religioso, e não hipócrita - tem sua vida voltada ao momento da morte, espera morrer inconscientemente, pois para ele morrer significa ir para o lado do seu criador. Eu, tendo enterrado minha crença em deus, fujo da morte.
A idéia de que não há nada após a morte além de 7 palmos de terra é desesperadora, mas igualmente é a idéia de que não há fim, de que tudo não passa de um breve momento que decidirá o que ocorrerá pelo resto da eternidade.
Somos frágeis, precisamos de crenças e de superstições para suportar a idéia de morrer. Quando nos falta [crenças e superstições], muitas vezes o desespero bate à porta. E de repente a vida nos parece banal, sem razão. No fim das contas somos apenas macacos evoluídos procurando o sinal do wi-fi em um shopping center. Somos uma mera obra do acaso, insignificantes perante o universo.
Então, perguntam-me, qual o sentido da vida? Respondo: pagar as contas no fim do mês e mergulhar no ópio para anestesiar a dor que é viver.
(Viver não é simplesmente existir, é questionar sua existência, mesmo que isso signifique perder uma parte da sua sanidade).
(Usarei a primeira pessoa do plural agora, caso não se importe, pois suponho que você, assim como eu, também pense)
Procuramos desesperadamente o sentido da vida, razões para continuar respirando. O instinto de sobrevivência nos impede de pular da janela do 13º andar. (Pergunto-me quem sentiria falta caso eu o fizesse). O fato de nascer é um peso em nossas costas, pois com ele temos que viver, e se estamos vivos temos que morrer.
O religioso se apega a deus: o verdadeiro religioso - aquele que é apenas religioso, e não hipócrita - tem sua vida voltada ao momento da morte, espera morrer inconscientemente, pois para ele morrer significa ir para o lado do seu criador. Eu, tendo enterrado minha crença em deus, fujo da morte.
A idéia de que não há nada após a morte além de 7 palmos de terra é desesperadora, mas igualmente é a idéia de que não há fim, de que tudo não passa de um breve momento que decidirá o que ocorrerá pelo resto da eternidade.
Somos frágeis, precisamos de crenças e de superstições para suportar a idéia de morrer. Quando nos falta [crenças e superstições], muitas vezes o desespero bate à porta. E de repente a vida nos parece banal, sem razão. No fim das contas somos apenas macacos evoluídos procurando o sinal do wi-fi em um shopping center. Somos uma mera obra do acaso, insignificantes perante o universo.
Então, perguntam-me, qual o sentido da vida? Respondo: pagar as contas no fim do mês e mergulhar no ópio para anestesiar a dor que é viver.
(Viver não é simplesmente existir, é questionar sua existência, mesmo que isso signifique perder uma parte da sua sanidade).
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
O imbecil.
Certa vez me chamaram de imbecil. E poucas coisas me afetaram tanto quanto isso. Talvez pelo momento, pela situação, pela pessoa, pela razão que fizeram de mim um completo imbecil.
O tempo passa. É, o maior clichê de todos: o tempo passa. Creio que consegui superar isso depois de me anestesiar com um carnaval bebendo e fazendo merda. Não fui um imbecil por algo que fiz, mas por algo que disse.
Hoje estou me considerando um verdadeiro imbecil com todas as letras gravadas na minha testa. Sou um imbecil por algo que fiz, que disse, mas principalmente por algo que senti. Algo que me deixei sentir mesmo sabendo que ia me foder no final.
Talvez eu seja emocionalmente imaturo, quiçá emocionalmente masoquista. Outro dia eu estava assistindo um filme, Quando Nietzsche Chorou (muito bom, por sinal), impossível não me identificar. Principalmente por uma frase que coube como uma luva em mim: amamos mais o desejar do que o objeto desejado.
Invento minhas paixões, procuro sarna para me coçar. Acho que até gosto de sofrer por amor. Esquisito, não? Creio que tenha relação com o fato de eu sempre me sentir só, me sentir carente até quando estou com alguém ao meu lado. Ou pelo fato de eu nunca ter vivido uma história de verdade.
Apego-me rápido às pessoas, mas na mesma velocidade eu me desapego. Não sou um imbecil apenas com quem eu gosto, mas também sou um imbecil comigo mesmo. Sei que tenho como consertar as coisas, mas acho que não vale à pena fazer isso quando você simplesmente passa a sentir indiferença pela pessoa, quando o desejar já perdeu a graça. Então eu me sinto não apenas um imbecil, mas também um filho da puta.
O tempo passa. É, o maior clichê de todos: o tempo passa. Creio que consegui superar isso depois de me anestesiar com um carnaval bebendo e fazendo merda. Não fui um imbecil por algo que fiz, mas por algo que disse.
Hoje estou me considerando um verdadeiro imbecil com todas as letras gravadas na minha testa. Sou um imbecil por algo que fiz, que disse, mas principalmente por algo que senti. Algo que me deixei sentir mesmo sabendo que ia me foder no final.
Talvez eu seja emocionalmente imaturo, quiçá emocionalmente masoquista. Outro dia eu estava assistindo um filme, Quando Nietzsche Chorou (muito bom, por sinal), impossível não me identificar. Principalmente por uma frase que coube como uma luva em mim: amamos mais o desejar do que o objeto desejado.
Invento minhas paixões, procuro sarna para me coçar. Acho que até gosto de sofrer por amor. Esquisito, não? Creio que tenha relação com o fato de eu sempre me sentir só, me sentir carente até quando estou com alguém ao meu lado. Ou pelo fato de eu nunca ter vivido uma história de verdade.
Apego-me rápido às pessoas, mas na mesma velocidade eu me desapego. Não sou um imbecil apenas com quem eu gosto, mas também sou um imbecil comigo mesmo. Sei que tenho como consertar as coisas, mas acho que não vale à pena fazer isso quando você simplesmente passa a sentir indiferença pela pessoa, quando o desejar já perdeu a graça. Então eu me sinto não apenas um imbecil, mas também um filho da puta.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Tenho liberdade.
Liberdade de gritar
Liberdade de dizer não
Liberdade de amar
Liberdade de escrever
Liberdade de ouvir um violão
na sombra de uma árvore
E tudo o que eu quero é ter você
Liberdade de dizer não
Liberdade de amar
Liberdade de escrever
Liberdade de ouvir um violão
na sombra de uma árvore
E tudo o que eu quero é ter você
segunda-feira, 16 de julho de 2012
A Caixinha.
Férias!
Roberto finalmente havia conseguido tirar férias do seu trabalho. Podeira aproveitar bastante, tomar aquele chopp com com o pessoal do futebol e passar o dia assistindo filmes antigos de pernas pro ar. A idéia seria essa se Luiza, sua mulher, não inventasse uma mudança logo nesse período.
Estavam com 7 anos de casamento, tudo às mil maravilhas. Depois da promoção em seu emprego, finalmente pôde se mudar para um apartamento maior. Roberto Filho já estava com 3 anos e Luiza já estava grávida de 3 meses. Precisariam de mais espaço.
Aquele apartamento de três quartos e 70m², o primeiro patrimônio adquirido por Roberto, tinha muitas histórias. Suas noites de solteiro com a turma da faculdade haviam sido homéricas.
Como todo homem, se apegava a tralhas antigas, todas guardadas em um quarto. Luiza estava na casa da mãe, provavelmente fofocando sobre os últimos acontecimentos da família. Sobrou para ele empacotar algumas coisas e - sob pressão - escolher o que jogar fora. "Pelo amor de Deus, Roberto, jogue pelo menos metade dessas coisas foras, não quero essas tranqueiras no apartamento novo!", ainda estavam frescas em sua memória as palavras de sua mulher.
O quarto era uma espécie de santuário de um homem que não havia se desvencilhado totalmente de sua adolescência. Alguns bonecos da Marvel, encadernados de Sandman, jogos de Super Nitendo, camisas e mais camisas do Corinthians, dentre outros objetos cheio de valor sentimental. Sentou-se num banquinho e começou a selecionar tudo o que queria e o que não queria.
Escondida, empoeirada e velha, acabou achando uma caixinha de madeira que havia sumido de vista há pelo menos 10 anos. Sentiu seu coração apertar um pouco, um nó na garganta e uma nostalgia de besteiras de outrora.
Pegou a caixinha, colocou sobre o colo e cuidadosamente a abriu. História de outra vida, de outro Roberto, aquele mesmo Roberto cultivava uma barba falha no queixo e usava um brinco na orelha esquerda.
Dentro da caixinha, um álbum de fotos da Kodak, um abridor de cerveja, um relógio de bolso parado, poesias que havia escrito em folhas de caderno, algumas outras coisas e um isqueiro Zippo. Aquele isqueiro que o levou a outras lembranças.
Aninha, fez uma cadeira com ela no último ano da faculdade. Ela que o havia presenteado com o isqueiro Zippo. Era a coisa mais linda do mundo, possuía cabelos ondulados, negros, olhos verdes. Seu pai era argentino, casada com chilena e ela havia nascido no Peru, sendo que morava no Brasil desde os 2 anos de idade.
Talvez Aninha tivesse sido o grande amor da sua vida. Namoraram três semanas. Roberto se apaixonou por ela após três dias. Primeiro a viu lendo um livro do Camus sentada no refeitório da universidade, depois foram apresentados num barzinho, possuíam alguns amigos em comum e logo foram apresentados. No terceiro dia estavam namorando, no quarto dormiram juntos pela primeira vez após uma garrafa de vinho e alguns LPs dos Beatles.
Estava perdidamente apaixonada por ela. Mas não havia futuro. No quinto dia ela revelou que já estava com uma viagem programada para a Europa, que moraria de vez lá com com sua mãe e seu padrasto, um boliviano intelectual que havia sido chamado para trabalhar na França.
Roberto decidiu que era maduro o suficiente para aguentar aquilo, era adulto e que saberia aproveitar os dias que ela estivesse no Brasil. Foi um namoro de três semanas que só conseguiu se recuperar depois de três meses. Ainda repetiu a cadeira e demorou mais um semestre para se formar.
"Foi o maior erro da minha vida", pensou Roberto, que de vez em quando ainda parava para pensar em Aninhha. "Mas foi um erro delicioso".
Por fim, guardou a caixinha. Decidiu que simplesmente não valeria a pena jogar aquele pedaço do seu passado fora.
domingo, 1 de julho de 2012
Ônibus.
Estava cansado, o dia havia sido exaustivo e, para completar, o ônibus estava demorando mais que o normal. Vinte minutos esperando na parada e nada. Resolveu acender um cigarro, na segunda tragada o ônibus chega. Amaldiçoou por ter que apagar o cigarro que havia acabado de acender.
Subiu no ônibus junto com a meia dúzia de pessoas. Pegou o último assento vago. Na parada seguinte, entrou uma velha corpulenta e sentiu-se obrigado a ceder seu lugar. A senhora agradeceu, com um sorriso gentil e sem graça alguma. Sorriu de volta, com um sorriso mais sem sal ainda.
Quando criança, costumava imaginar que, quando andava de ônibus, era um pirata e o gigante de metal era seu navio. O balanço do ônibus era o balanço do mar, segurava-se nas barras de metal imaginando que voava segurando-se por uma corda da vela. Quando passava por um buraco, eram os canhões de um navio inimigo.
Agora as fantasias de criança não passavam de uma parte da sua infância, sua única fantasia era com a cama que o aguardava após um dia cansativo.
Subiu no ônibus junto com a meia dúzia de pessoas. Pegou o último assento vago. Na parada seguinte, entrou uma velha corpulenta e sentiu-se obrigado a ceder seu lugar. A senhora agradeceu, com um sorriso gentil e sem graça alguma. Sorriu de volta, com um sorriso mais sem sal ainda.
Quando criança, costumava imaginar que, quando andava de ônibus, era um pirata e o gigante de metal era seu navio. O balanço do ônibus era o balanço do mar, segurava-se nas barras de metal imaginando que voava segurando-se por uma corda da vela. Quando passava por um buraco, eram os canhões de um navio inimigo.
Agora as fantasias de criança não passavam de uma parte da sua infância, sua única fantasia era com a cama que o aguardava após um dia cansativo.
Assinar:
Postagens (Atom)