Não importava quantas colheres de açúcar colocasse no café, ele continuaria amargo. Talvez o problema não fosse o café ou o açúcar, talvez o problema não fosse seu time ter perdido ou o preço da carteira de cigarro ter aumentado. Talvez o problema fosse consigo.
Dizem que o tempo coloca tudo em seu devido lugar. Jamais acreditou nisso, a única coisa que o tempo coloca são cabelos brancos em sua cabeça.
Abria a parte de política do jornal e já não se importava mais com isso. O pó de seus livros velhos ainda o acompanhava, mas já não valia a pena continuar apaixonado por ideologias antigas, utopias que não passam de utopias.
Observar o mundo através de uma caixa de imagens era entediante, embriagar-se com aguardente já era banal. Não sentia mais prazer ao ter o calor de outro corpo em seus braços. Respirar continuava cada vez mais doloroso.
A chuva fina batia na janela de vidro do seu quarto. Seu despertador tocava.
Hora de acordar.
Hora de viver mais um dia.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Doce desespero.
A cidade está morta; e como um peso morto ela me cansa. As pessoas me saturam, trazem suas complicações e contaminam o meu mundo. Um mundo já tão contaminado com meus medos, minhas inseguranças, minhas angústias. Hoje estou bem, amanhã posso explodir.
Quero me isolar de tudo e de todos. Nem que por alguns minutos quero me isolar da mesmice cotidiana, do tédio que consome o meu dia-a-dia, minha juventude, meus conceitos. Quero fugir para a solidão acompanhado da minha loucura.
Certa vez uma cigana leu a minha mão, disse que eu morreria cedo. Acendi um cigarro e esperei a morte chegar.
(Ainda espero.)
Quero me isolar de tudo e de todos. Nem que por alguns minutos quero me isolar da mesmice cotidiana, do tédio que consome o meu dia-a-dia, minha juventude, meus conceitos. Quero fugir para a solidão acompanhado da minha loucura.
Certa vez uma cigana leu a minha mão, disse que eu morreria cedo. Acendi um cigarro e esperei a morte chegar.
(Ainda espero.)
domingo, 18 de novembro de 2012
O melhor cigarro.
O melhor cigarro é aquele que você acende com o corpo ainda suado, as pernas trêmulas. Quando o sabor de outra pele ainda repousa em sua boca. Quando o tato dá lugar à razão, a mente está vazia e o coração acelerado. Um sorriso ofegante, dando cada tragada como se fosse única, mas sem pressa. Aquele momento em que você consegue esquecer que o mundo lá fora está desabando.
sábado, 17 de novembro de 2012
Busca.
Acendeu o primeiro cigarro da madrugada, guardou o isqueiro Bic no bolso e colocou para tocar um LP do Belchior. Soltou a fumaça pela janela do quarto, observando a rua sem movimento e buscando na memória boas lembranças para não se jogar do oitavo andar.
(Talvez o suicídio fosse mesmo a única grande questão filosófica)
(Talvez o suicídio fosse mesmo a única grande questão filosófica)
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Ainda somos e vivemos como nossos pais.
A experiência da esperança
A fé de uma nova utopia
Nas páginas amareladas de um livro velho
A poeira de uma antiga idéia
Nas barbas de um novo rosto
A morte do indivíduo
Paixão no lugar da razão
A fé de uma nova utopia
Nas páginas amareladas de um livro velho
A poeira de uma antiga idéia
Nas barbas de um novo rosto
A morte do indivíduo
Paixão no lugar da razão
domingo, 28 de outubro de 2012
Agora.
Quero te ter agora
Antes que a música acabe
Antes que o dia amanheça
Antes que o cigarro apague
Quero te ter agora
Enquanto ainda tenho vida
Enquanto ainda não estraguei tudo
Enquanto ainda te amo
Antes que a música acabe
Antes que o dia amanheça
Antes que o cigarro apague
Quero te ter agora
Enquanto ainda tenho vida
Enquanto ainda não estraguei tudo
Enquanto ainda te amo
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Palavras na areia.
A cada segundo que respiro me dói. Me dói por saber que já não te tenho, que não somos mais um, mas dois pedaços partidos e imperfeitos do que já foi um inteiro. Me dói não por guardar as más lembranças, mas por saber que os bons momentos já não são parte do presente. Não sentir tua falta não significa não sentir a falta do que vivemos.
Não é por orgulho, é por saber que já não vale mais a pena lutar por uma causa perdida, por mais romântica que a idéia pareça. Lutar por alguém que não sente o mesmo é ser um chato notório.
Não acredito que sejamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos: que direito tenho eu de exigir que alguém me ame? Que direito tenho eu de exigir que alguém sacrifique sua felicidade pela minha?
São palavras na areia que o mar já levou.
Não é por orgulho, é por saber que já não vale mais a pena lutar por uma causa perdida, por mais romântica que a idéia pareça. Lutar por alguém que não sente o mesmo é ser um chato notório.
Não acredito que sejamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos: que direito tenho eu de exigir que alguém me ame? Que direito tenho eu de exigir que alguém sacrifique sua felicidade pela minha?
São palavras na areia que o mar já levou.
sábado, 29 de setembro de 2012
Chicabom
Hoje, quando acordei, fui à cozinha beber água e acabei vendo uma caixa de Chicabom no congelador. Me veio ao paladar a lembrança do gosto do picolé, e à mente o sabor da minha infância. Dona Márcia, minha mãe, sempre comprava para mim uma caixa e deixava lá, guardada, para quando eu quisesse pegar.
Chicabom tem gosto de infância, bem como os bolos de chocolate que a minha avó fazia ou as deliciosas macarronadas que o meu pai preparava tão divinamente bem.
É engraçado como coisas banais para mim àquela época, hoje têm um significado de memória, que lembram quanto carinho eu tenho por aqueles tempos. São coisas que nos deparamos e pensamos: "poxa, eu adorava isso quando era criança!".
Outro dia eu estava passando os canais e vi no Telecine o filme dos Power Rangers. Movido por alguma força desconhecida, acabei assistindo, eu, um marmanjo com barba na cara e quase 20 anos nas costas. Recordei-me das brincadeiras que eu fazia nas escadas do antigo prédio em que morei, ou mesmo quando me mudei para o interior. Como era maravilhoso jogar bola na praça, debaixo da chuva, até que o vigia aparecesse para nos expulsar.
Mas se teve algo que marcou minha infância, provavelmente foi o segundo filme do Batman dirigido pelo Tim Burton, aquele em que aparecia o Pingüim e a Mulher-Gato. Perdi as contas de quantas vezes assisti aquele filme, fosse alugando em VHS (e tendo que rebobinar após assistir) ou quando passava na Sessão da Tarde. A cena do beijo da Mulher-Gato com o Batman e a morte do Pingüim, bem como aquele clima obscuro de Gotham, sempre estarão presentes na minha memória.
Acho que apesar dos pesares, minha infância do final dos anos 90 e começo dos anos 2000 até que foi boa.
(Não sei bem por que escrevi esse texto, mas tive que expressar de alguma forma o que senti quando vi a caixa de Chicabom no congelador).
Chicabom tem gosto de infância, bem como os bolos de chocolate que a minha avó fazia ou as deliciosas macarronadas que o meu pai preparava tão divinamente bem.
É engraçado como coisas banais para mim àquela época, hoje têm um significado de memória, que lembram quanto carinho eu tenho por aqueles tempos. São coisas que nos deparamos e pensamos: "poxa, eu adorava isso quando era criança!".
Outro dia eu estava passando os canais e vi no Telecine o filme dos Power Rangers. Movido por alguma força desconhecida, acabei assistindo, eu, um marmanjo com barba na cara e quase 20 anos nas costas. Recordei-me das brincadeiras que eu fazia nas escadas do antigo prédio em que morei, ou mesmo quando me mudei para o interior. Como era maravilhoso jogar bola na praça, debaixo da chuva, até que o vigia aparecesse para nos expulsar.
Mas se teve algo que marcou minha infância, provavelmente foi o segundo filme do Batman dirigido pelo Tim Burton, aquele em que aparecia o Pingüim e a Mulher-Gato. Perdi as contas de quantas vezes assisti aquele filme, fosse alugando em VHS (e tendo que rebobinar após assistir) ou quando passava na Sessão da Tarde. A cena do beijo da Mulher-Gato com o Batman e a morte do Pingüim, bem como aquele clima obscuro de Gotham, sempre estarão presentes na minha memória.
Acho que apesar dos pesares, minha infância do final dos anos 90 e começo dos anos 2000 até que foi boa.
(Não sei bem por que escrevi esse texto, mas tive que expressar de alguma forma o que senti quando vi a caixa de Chicabom no congelador).
domingo, 23 de setembro de 2012
Reticências.
Somos fruto das merdas que vivemos, amadurecemos com nossos erros e nossas decepções. No fim das contas Sartre tinha razão, o que importa é o que faremos com aquilo que fizeram de nós.
sábado, 22 de setembro de 2012
Incógnitas.
Pegou a chave do carro e uma carteira de Marlboro.
A estrada parecia curta, dirigia a 140km/h no meio da madrugada. Uma hora e meio litro de uísque depois, ouvindo Rammstein no volume máximo, chegou à fazenda do avô. Teve momentos felizes ali, agora a casa grande estava abandonada, praticamente em ruínas.
Foi fácil arrombar a porta de madeira. Não havia luz, procurou algumas velas e acendeu todas. Cheirou cinco gramas de cocaína. Só tinha mais três cigarros.
Achou alguns remédios vencidos no banheiro, tomou alguns. A garrafa de uísque já estava quase no fim. Pegou o antigo rifle do seu tio que sempre ficava em baixo da cama, a caixa de munição estava numa cômoda.
Sentou numa cadeira, colocou a boca no cano do rifle e apertou o gatilho com o dedão do pé.
(Por que ele fez isso?)
A estrada parecia curta, dirigia a 140km/h no meio da madrugada. Uma hora e meio litro de uísque depois, ouvindo Rammstein no volume máximo, chegou à fazenda do avô. Teve momentos felizes ali, agora a casa grande estava abandonada, praticamente em ruínas.
Foi fácil arrombar a porta de madeira. Não havia luz, procurou algumas velas e acendeu todas. Cheirou cinco gramas de cocaína. Só tinha mais três cigarros.
Achou alguns remédios vencidos no banheiro, tomou alguns. A garrafa de uísque já estava quase no fim. Pegou o antigo rifle do seu tio que sempre ficava em baixo da cama, a caixa de munição estava numa cômoda.
Sentou numa cadeira, colocou a boca no cano do rifle e apertou o gatilho com o dedão do pé.
(Por que ele fez isso?)
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Diante do fim.
Eu caminhava pela calçada quando senti um cutucão no ombro, seguido de uma voz falando: "ei, doutor, me salva um careta?". Respirei fundo, não se aborda ninguém por trás. Pensei por uma fração de segundo, meti a mão no bolso para tirar minha carteira de Marlboro e me virei para trás. O rapaz não deveria ter mais do que 15 anos, era muito magro e a arma que segurava apontando para a minha cabeça parecia ser mais pesada do que ele poderia aguentar.
"Calma", pensei comigo mesmo.
Geralmente, quando caminho só, costumo indagar sobre essas questões existenciais, o sentido da vida, de onde viemos e essa porra toda. É bem como quando fazemos discursos imaginários no espelho do banheiro, nos sentindo Lênin falando para milhares de pessoas prestes a começar uma revolução.
Por algum motivo - talvez por ter uma arma apontada à minha cabeça -, "a vida passou diante dos meus olhos". Eu só conseguia pensar no livro eu que não havia terminado de ler, na trilogia do De Volta Para o Futuro que eu ainda não tinha deixado na locadora, no lixo que eu não tinha colocado para fora (Lúcia ia me matar se o lixo não estivesse fora à noite).
Nas minhas caminhadas pensativas, eu nunca tive idéias tão desesperadoras, calmas e racionais como naquela fração de segundo em que eu tinha uma overdose de pensamentos com um moleque me apontando uma arma.
Pensei em como seria morrer, se eu sentiria alguma dor, se alguém ainda se lembraria de mim daqui a dez anos. Indaguei se Deus realmente existia, não senti vontade de rezar ou de clamar piedade divina, apenas me perguntei como seria o mundo sem mim. Cheguei à conclusão de que seria o mesmo, de o quanto a morte é banal e comum quando se trata dos outros, mas tão importante quando é a nossa. Somos egocêntricos e nos importamos mais com nós mesmos: não que isso seja um defeito, é apenas ser humano.
O que mais me chateava era saber que tudo continuaria como sempre, que poucas pessoas lamentariam de verdade a minha morte, que a festa seguiria sem mim. Mas não havia outra escolha senão aceitar o que seria inevitável.
"Bora, caralho, me passa logo a porra desse cigarro", agora não havia mais doutor em sua frase, seu lábio superior estava levemente contraído e seus olhos expressavam raiva.
Tirei a carteira de cigarro do bolso e entreguei a ele. Ele pegou, deu meia volta e saiu apressado.
Fiquei lá, aliviado por estar vivo, mas desesperado por continuar respirando após as indagações que haviam surgido naquele instante diante do fim.
"Calma", pensei comigo mesmo.
Geralmente, quando caminho só, costumo indagar sobre essas questões existenciais, o sentido da vida, de onde viemos e essa porra toda. É bem como quando fazemos discursos imaginários no espelho do banheiro, nos sentindo Lênin falando para milhares de pessoas prestes a começar uma revolução.
Por algum motivo - talvez por ter uma arma apontada à minha cabeça -, "a vida passou diante dos meus olhos". Eu só conseguia pensar no livro eu que não havia terminado de ler, na trilogia do De Volta Para o Futuro que eu ainda não tinha deixado na locadora, no lixo que eu não tinha colocado para fora (Lúcia ia me matar se o lixo não estivesse fora à noite).
Nas minhas caminhadas pensativas, eu nunca tive idéias tão desesperadoras, calmas e racionais como naquela fração de segundo em que eu tinha uma overdose de pensamentos com um moleque me apontando uma arma.
Pensei em como seria morrer, se eu sentiria alguma dor, se alguém ainda se lembraria de mim daqui a dez anos. Indaguei se Deus realmente existia, não senti vontade de rezar ou de clamar piedade divina, apenas me perguntei como seria o mundo sem mim. Cheguei à conclusão de que seria o mesmo, de o quanto a morte é banal e comum quando se trata dos outros, mas tão importante quando é a nossa. Somos egocêntricos e nos importamos mais com nós mesmos: não que isso seja um defeito, é apenas ser humano.
O que mais me chateava era saber que tudo continuaria como sempre, que poucas pessoas lamentariam de verdade a minha morte, que a festa seguiria sem mim. Mas não havia outra escolha senão aceitar o que seria inevitável.
"Bora, caralho, me passa logo a porra desse cigarro", agora não havia mais doutor em sua frase, seu lábio superior estava levemente contraído e seus olhos expressavam raiva.
Tirei a carteira de cigarro do bolso e entreguei a ele. Ele pegou, deu meia volta e saiu apressado.
Fiquei lá, aliviado por estar vivo, mas desesperado por continuar respirando após as indagações que haviam surgido naquele instante diante do fim.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Breve ensaio sobre a vida
Convido a madrugada para entrar, para fazer companhia à minha solidão. Minha carteira de cigarro está vazia, bem como minh'alma. A tristeza do meu ser não está ligada ao fato de estar só, mas de amargurar o fardo que é pensar.
(Usarei a primeira pessoa do plural agora, caso não se importe, pois suponho que você, assim como eu, também pense)
Procuramos desesperadamente o sentido da vida, razões para continuar respirando. O instinto de sobrevivência nos impede de pular da janela do 13º andar. (Pergunto-me quem sentiria falta caso eu o fizesse). O fato de nascer é um peso em nossas costas, pois com ele temos que viver, e se estamos vivos temos que morrer.
O religioso se apega a deus: o verdadeiro religioso - aquele que é apenas religioso, e não hipócrita - tem sua vida voltada ao momento da morte, espera morrer inconscientemente, pois para ele morrer significa ir para o lado do seu criador. Eu, tendo enterrado minha crença em deus, fujo da morte.
A idéia de que não há nada após a morte além de 7 palmos de terra é desesperadora, mas igualmente é a idéia de que não há fim, de que tudo não passa de um breve momento que decidirá o que ocorrerá pelo resto da eternidade.
Somos frágeis, precisamos de crenças e de superstições para suportar a idéia de morrer. Quando nos falta [crenças e superstições], muitas vezes o desespero bate à porta. E de repente a vida nos parece banal, sem razão. No fim das contas somos apenas macacos evoluídos procurando o sinal do wi-fi em um shopping center. Somos uma mera obra do acaso, insignificantes perante o universo.
Então, perguntam-me, qual o sentido da vida? Respondo: pagar as contas no fim do mês e mergulhar no ópio para anestesiar a dor que é viver.
(Viver não é simplesmente existir, é questionar sua existência, mesmo que isso signifique perder uma parte da sua sanidade).
(Usarei a primeira pessoa do plural agora, caso não se importe, pois suponho que você, assim como eu, também pense)
Procuramos desesperadamente o sentido da vida, razões para continuar respirando. O instinto de sobrevivência nos impede de pular da janela do 13º andar. (Pergunto-me quem sentiria falta caso eu o fizesse). O fato de nascer é um peso em nossas costas, pois com ele temos que viver, e se estamos vivos temos que morrer.
O religioso se apega a deus: o verdadeiro religioso - aquele que é apenas religioso, e não hipócrita - tem sua vida voltada ao momento da morte, espera morrer inconscientemente, pois para ele morrer significa ir para o lado do seu criador. Eu, tendo enterrado minha crença em deus, fujo da morte.
A idéia de que não há nada após a morte além de 7 palmos de terra é desesperadora, mas igualmente é a idéia de que não há fim, de que tudo não passa de um breve momento que decidirá o que ocorrerá pelo resto da eternidade.
Somos frágeis, precisamos de crenças e de superstições para suportar a idéia de morrer. Quando nos falta [crenças e superstições], muitas vezes o desespero bate à porta. E de repente a vida nos parece banal, sem razão. No fim das contas somos apenas macacos evoluídos procurando o sinal do wi-fi em um shopping center. Somos uma mera obra do acaso, insignificantes perante o universo.
Então, perguntam-me, qual o sentido da vida? Respondo: pagar as contas no fim do mês e mergulhar no ópio para anestesiar a dor que é viver.
(Viver não é simplesmente existir, é questionar sua existência, mesmo que isso signifique perder uma parte da sua sanidade).
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
O imbecil.
Certa vez me chamaram de imbecil. E poucas coisas me afetaram tanto quanto isso. Talvez pelo momento, pela situação, pela pessoa, pela razão que fizeram de mim um completo imbecil.
O tempo passa. É, o maior clichê de todos: o tempo passa. Creio que consegui superar isso depois de me anestesiar com um carnaval bebendo e fazendo merda. Não fui um imbecil por algo que fiz, mas por algo que disse.
Hoje estou me considerando um verdadeiro imbecil com todas as letras gravadas na minha testa. Sou um imbecil por algo que fiz, que disse, mas principalmente por algo que senti. Algo que me deixei sentir mesmo sabendo que ia me foder no final.
Talvez eu seja emocionalmente imaturo, quiçá emocionalmente masoquista. Outro dia eu estava assistindo um filme, Quando Nietzsche Chorou (muito bom, por sinal), impossível não me identificar. Principalmente por uma frase que coube como uma luva em mim: amamos mais o desejar do que o objeto desejado.
Invento minhas paixões, procuro sarna para me coçar. Acho que até gosto de sofrer por amor. Esquisito, não? Creio que tenha relação com o fato de eu sempre me sentir só, me sentir carente até quando estou com alguém ao meu lado. Ou pelo fato de eu nunca ter vivido uma história de verdade.
Apego-me rápido às pessoas, mas na mesma velocidade eu me desapego. Não sou um imbecil apenas com quem eu gosto, mas também sou um imbecil comigo mesmo. Sei que tenho como consertar as coisas, mas acho que não vale à pena fazer isso quando você simplesmente passa a sentir indiferença pela pessoa, quando o desejar já perdeu a graça. Então eu me sinto não apenas um imbecil, mas também um filho da puta.
O tempo passa. É, o maior clichê de todos: o tempo passa. Creio que consegui superar isso depois de me anestesiar com um carnaval bebendo e fazendo merda. Não fui um imbecil por algo que fiz, mas por algo que disse.
Hoje estou me considerando um verdadeiro imbecil com todas as letras gravadas na minha testa. Sou um imbecil por algo que fiz, que disse, mas principalmente por algo que senti. Algo que me deixei sentir mesmo sabendo que ia me foder no final.
Talvez eu seja emocionalmente imaturo, quiçá emocionalmente masoquista. Outro dia eu estava assistindo um filme, Quando Nietzsche Chorou (muito bom, por sinal), impossível não me identificar. Principalmente por uma frase que coube como uma luva em mim: amamos mais o desejar do que o objeto desejado.
Invento minhas paixões, procuro sarna para me coçar. Acho que até gosto de sofrer por amor. Esquisito, não? Creio que tenha relação com o fato de eu sempre me sentir só, me sentir carente até quando estou com alguém ao meu lado. Ou pelo fato de eu nunca ter vivido uma história de verdade.
Apego-me rápido às pessoas, mas na mesma velocidade eu me desapego. Não sou um imbecil apenas com quem eu gosto, mas também sou um imbecil comigo mesmo. Sei que tenho como consertar as coisas, mas acho que não vale à pena fazer isso quando você simplesmente passa a sentir indiferença pela pessoa, quando o desejar já perdeu a graça. Então eu me sinto não apenas um imbecil, mas também um filho da puta.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Tenho liberdade.
Liberdade de gritar
Liberdade de dizer não
Liberdade de amar
Liberdade de escrever
Liberdade de ouvir um violão
na sombra de uma árvore
E tudo o que eu quero é ter você
Liberdade de dizer não
Liberdade de amar
Liberdade de escrever
Liberdade de ouvir um violão
na sombra de uma árvore
E tudo o que eu quero é ter você
segunda-feira, 16 de julho de 2012
A Caixinha.
Férias!
Roberto finalmente havia conseguido tirar férias do seu trabalho. Podeira aproveitar bastante, tomar aquele chopp com com o pessoal do futebol e passar o dia assistindo filmes antigos de pernas pro ar. A idéia seria essa se Luiza, sua mulher, não inventasse uma mudança logo nesse período.
Estavam com 7 anos de casamento, tudo às mil maravilhas. Depois da promoção em seu emprego, finalmente pôde se mudar para um apartamento maior. Roberto Filho já estava com 3 anos e Luiza já estava grávida de 3 meses. Precisariam de mais espaço.
Aquele apartamento de três quartos e 70m², o primeiro patrimônio adquirido por Roberto, tinha muitas histórias. Suas noites de solteiro com a turma da faculdade haviam sido homéricas.
Como todo homem, se apegava a tralhas antigas, todas guardadas em um quarto. Luiza estava na casa da mãe, provavelmente fofocando sobre os últimos acontecimentos da família. Sobrou para ele empacotar algumas coisas e - sob pressão - escolher o que jogar fora. "Pelo amor de Deus, Roberto, jogue pelo menos metade dessas coisas foras, não quero essas tranqueiras no apartamento novo!", ainda estavam frescas em sua memória as palavras de sua mulher.
O quarto era uma espécie de santuário de um homem que não havia se desvencilhado totalmente de sua adolescência. Alguns bonecos da Marvel, encadernados de Sandman, jogos de Super Nitendo, camisas e mais camisas do Corinthians, dentre outros objetos cheio de valor sentimental. Sentou-se num banquinho e começou a selecionar tudo o que queria e o que não queria.
Escondida, empoeirada e velha, acabou achando uma caixinha de madeira que havia sumido de vista há pelo menos 10 anos. Sentiu seu coração apertar um pouco, um nó na garganta e uma nostalgia de besteiras de outrora.
Pegou a caixinha, colocou sobre o colo e cuidadosamente a abriu. História de outra vida, de outro Roberto, aquele mesmo Roberto cultivava uma barba falha no queixo e usava um brinco na orelha esquerda.
Dentro da caixinha, um álbum de fotos da Kodak, um abridor de cerveja, um relógio de bolso parado, poesias que havia escrito em folhas de caderno, algumas outras coisas e um isqueiro Zippo. Aquele isqueiro que o levou a outras lembranças.
Aninha, fez uma cadeira com ela no último ano da faculdade. Ela que o havia presenteado com o isqueiro Zippo. Era a coisa mais linda do mundo, possuía cabelos ondulados, negros, olhos verdes. Seu pai era argentino, casada com chilena e ela havia nascido no Peru, sendo que morava no Brasil desde os 2 anos de idade.
Talvez Aninha tivesse sido o grande amor da sua vida. Namoraram três semanas. Roberto se apaixonou por ela após três dias. Primeiro a viu lendo um livro do Camus sentada no refeitório da universidade, depois foram apresentados num barzinho, possuíam alguns amigos em comum e logo foram apresentados. No terceiro dia estavam namorando, no quarto dormiram juntos pela primeira vez após uma garrafa de vinho e alguns LPs dos Beatles.
Estava perdidamente apaixonada por ela. Mas não havia futuro. No quinto dia ela revelou que já estava com uma viagem programada para a Europa, que moraria de vez lá com com sua mãe e seu padrasto, um boliviano intelectual que havia sido chamado para trabalhar na França.
Roberto decidiu que era maduro o suficiente para aguentar aquilo, era adulto e que saberia aproveitar os dias que ela estivesse no Brasil. Foi um namoro de três semanas que só conseguiu se recuperar depois de três meses. Ainda repetiu a cadeira e demorou mais um semestre para se formar.
"Foi o maior erro da minha vida", pensou Roberto, que de vez em quando ainda parava para pensar em Aninhha. "Mas foi um erro delicioso".
Por fim, guardou a caixinha. Decidiu que simplesmente não valeria a pena jogar aquele pedaço do seu passado fora.
domingo, 1 de julho de 2012
Ônibus.
Estava cansado, o dia havia sido exaustivo e, para completar, o ônibus estava demorando mais que o normal. Vinte minutos esperando na parada e nada. Resolveu acender um cigarro, na segunda tragada o ônibus chega. Amaldiçoou por ter que apagar o cigarro que havia acabado de acender.
Subiu no ônibus junto com a meia dúzia de pessoas. Pegou o último assento vago. Na parada seguinte, entrou uma velha corpulenta e sentiu-se obrigado a ceder seu lugar. A senhora agradeceu, com um sorriso gentil e sem graça alguma. Sorriu de volta, com um sorriso mais sem sal ainda.
Quando criança, costumava imaginar que, quando andava de ônibus, era um pirata e o gigante de metal era seu navio. O balanço do ônibus era o balanço do mar, segurava-se nas barras de metal imaginando que voava segurando-se por uma corda da vela. Quando passava por um buraco, eram os canhões de um navio inimigo.
Agora as fantasias de criança não passavam de uma parte da sua infância, sua única fantasia era com a cama que o aguardava após um dia cansativo.
Subiu no ônibus junto com a meia dúzia de pessoas. Pegou o último assento vago. Na parada seguinte, entrou uma velha corpulenta e sentiu-se obrigado a ceder seu lugar. A senhora agradeceu, com um sorriso gentil e sem graça alguma. Sorriu de volta, com um sorriso mais sem sal ainda.
Quando criança, costumava imaginar que, quando andava de ônibus, era um pirata e o gigante de metal era seu navio. O balanço do ônibus era o balanço do mar, segurava-se nas barras de metal imaginando que voava segurando-se por uma corda da vela. Quando passava por um buraco, eram os canhões de um navio inimigo.
Agora as fantasias de criança não passavam de uma parte da sua infância, sua única fantasia era com a cama que o aguardava após um dia cansativo.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Primeira pessoa do plural.
E até hoje eu guardo no bolso o isqueiro Bic que você me deu, junto com as boas lembranças e um punhado de mágoas soltas. Guardo na mente os momentos cotidianos, a felicidade que passava invisível diante dos meus olhos. As conversas sem pé nem cabeça que tínhamos após o sexo, a sua risada engraçada quando assistíamos a algum filme besta, nossos diálogos existencialistas enquanto nos balançávamos numa rede, de você tirando sarro da minha cara quando meu time perdia. Lembro de nós.
domingo, 24 de junho de 2012
É a vida, companheiro.
Às vezes sou muito impulsivo. Faço duas vezes antes de pensar, bem como diria a música. Talvez por isso eu quebre a cara tantas vezes. Se um dia eu tenho amor por uma pessoa, no outro eu tenho indiferença. Se um problema grande não me afeta hoje, amanhã tô morrendo por causa dele.
Sou muito exagerado, se agora não quero te ver nem pintada de ouro, já, já te quero do meu lado seja como for.
Se estou com raiva agora, logo lembro daqueles momentos que tivemos. O tempo passa e a gente vai esperando tudo se resolver, tudo se encaixar, a gente deixa o tempo superar por nós. Só que a vida sempre arranja um jeito de estragar tudo.
Você entra no ônibus, vê a pessoa, fica desesperado, finge que não viu, ela vem falar com você e pergunta como estão as coisas. Nessas horas que você percebe o quanto o tempo não passa de uma ilusão, de que certas coisas não olham para o calendário, simplesmente acontecem.
Sou muito exagerado, se agora não quero te ver nem pintada de ouro, já, já te quero do meu lado seja como for.
Se estou com raiva agora, logo lembro daqueles momentos que tivemos. O tempo passa e a gente vai esperando tudo se resolver, tudo se encaixar, a gente deixa o tempo superar por nós. Só que a vida sempre arranja um jeito de estragar tudo.
Você entra no ônibus, vê a pessoa, fica desesperado, finge que não viu, ela vem falar com você e pergunta como estão as coisas. Nessas horas que você percebe o quanto o tempo não passa de uma ilusão, de que certas coisas não olham para o calendário, simplesmente acontecem.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Escrevendo um poema.
Pensei em escrever um poema
Primeiro peguei a tinta
Depois peguei a pena
Pensei comigo: "apenas sinta"
Procurei palavras ao acaso
Imaginei meu inferno
O paraíso no teu abraço
Escrevi num caderno.
Primeiro peguei a tinta
Depois peguei a pena
Pensei comigo: "apenas sinta"
Procurei palavras ao acaso
Imaginei meu inferno
O paraíso no teu abraço
Escrevi num caderno.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Filosofia (Ascenso Ferreira)
Hora de comer - comer!
Hora de dormir - dormir!
Hora de vadiar - vadiar!
Hora de trabalhar?
- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!
Hora de dormir - dormir!
Hora de vadiar - vadiar!
Hora de trabalhar?
- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!
domingo, 10 de junho de 2012
Menino de Rua (Patativa do Assaré)
Menino de Rua, assim maltrapilho
De quem tu és filho
Onde anda o teu pai?
Tu vagas incerto não achas abrigo
Exposto ao perigo
De um drama de horror
É sobre a sarjeta que dormes teu sono,
No grande abandono
Não tens protetor
Meu Deus! Que tristeza! Que vida esta tua
Menino de Rua,
Tu andas em vão
Ninguém te conhece, nem sabe o teu nome
Com frio e com fome
Sem roupa e sem pão
Ao léu do desprezo dormes ao relento
O teu sofrimento
Não posso julgar,
Ninguém te auxilia, ninguém te consola,
Cadê tua escola,
Teus pais teu lar?
Seguindo constante teu duro caminho
Tu vives sozinho
Não és de ninguém
Às vezes pensando na vida que levas
Te ocultas nas trevas
Com medo de alguém
Assim continuas de noite e de dia
Não tens alegria
Não cantas nem ri
No caos de incerteza que o seu mundo encerra
Os grandes da terra
Não zelam por ti
Teus olhos demonstram a dor, a tristeza,
Miséria, pobreza
E cruéis privações
E enquanto estas dores tu vives pensando,
Vão ricos roubando
Milhões e milhões
Garoto eu desejo que em vez deste inferno
Tu tenhas caderno
Também professor
Menino de Rua de ti não me esqueço
E aqui te ofereço
Meu canto de dor
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Minha Desgraça (Álvares de Azevedo)
Minha desgraça não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, um planeta
Tratar-me como trata um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo o sol (quem mo dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz o meu peito blasfema,
É ter para escrever um poema
E não ter um vintém para uma vela
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, um planeta
Tratar-me como trata um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo o sol (quem mo dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz o meu peito blasfema,
É ter para escrever um poema
E não ter um vintém para uma vela
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Um filme de comédia, uma arma e um balde de pipoca.
O cigarro queimava no cinzeiro, a fumaça saia da brasa como se dançasse uma valsa. Era a quarta dose de uísque cowboy que Ricardo tomava. Esta no apartamento que ainda não terminara de pagar, sentado no sofá apenas de cueca. A sala era iluminada apenas pela luz azulada da televisão, estava passando um filme de comédia. Não o achava engraçado.
Ao fim da quinta dose de uísque barato, teve coragem de engatilhar o velho trinta e oito de seu falecido pai. Tomou outra dose. Estava com 39 anos, calvo, dirigindo um Fiat 147, num emprego que odiava e com uma vida medíocre.
Perguntava-se onde tinham se metido todos aqueles ideais de quando era jovem. Sentia falta das passeatas de quando era estudante, dos anseios de fazer a diferença. Mas o tempo passa e as contas vão chegando no fim do mês. As semanas atropelam e, quando se deu conta de que os anos já o pisoteavam, já começava a ter uns poucos cabelos grisalhos.
Sentiu o gosto do cano do trinta e oito. O gosto de metal e de poeira. Fechou os olhos e deixou uma lágrima cair. Já não valia a pena viver sendo infeliz, sua mão tremia e seu dedo tremia mais ainda, encontrava forças para puxar o gatilho.
Um som ecoou pelo apartamento. Um som de tiro. Uma mancha vermelha pintou a parede atrás do sofá.
Abriu os olhos, olhou para o lado e viu um cara de terno e óculos escuros segurando um balde de pipoca e rindo do filme de comédia que passava na televisão.
- Adoro esse filme!
Então o cara de terno pegou o controle da tevê e a desligou. Ricardo se levantou depressa e deu uma boa olhada na cena: um estranho no sofá ao lado de um corpo. O seu corpo.
- Você... você é a morte? - indagou Ricardo, com a voz fraquejando, mas sentindo certo alívio.
- Bem, certamente não sou o Papai Noel. Sim, cara, sou o que vocês chamam de "morte".
- Graças a Deus! E você vai me levar?
- Ainda não. Aliás, acho que você tem visita.
Houve um barulho vindo da porta, como se alguém estivesse tentando arrombar. De fato, estava: e conseguiu na segunda tentativa. Ricardo sentiu-se ser puxado de volta para o próprio corpo. A bala não tinha ido para a cabeça, mas atravessado sua boca e espinha. Viveria mais um dia para ser infeliz, só que desta vez tetraplégico.
Ao fim da quinta dose de uísque barato, teve coragem de engatilhar o velho trinta e oito de seu falecido pai. Tomou outra dose. Estava com 39 anos, calvo, dirigindo um Fiat 147, num emprego que odiava e com uma vida medíocre.
Perguntava-se onde tinham se metido todos aqueles ideais de quando era jovem. Sentia falta das passeatas de quando era estudante, dos anseios de fazer a diferença. Mas o tempo passa e as contas vão chegando no fim do mês. As semanas atropelam e, quando se deu conta de que os anos já o pisoteavam, já começava a ter uns poucos cabelos grisalhos.
Sentiu o gosto do cano do trinta e oito. O gosto de metal e de poeira. Fechou os olhos e deixou uma lágrima cair. Já não valia a pena viver sendo infeliz, sua mão tremia e seu dedo tremia mais ainda, encontrava forças para puxar o gatilho.
Um som ecoou pelo apartamento. Um som de tiro. Uma mancha vermelha pintou a parede atrás do sofá.
Abriu os olhos, olhou para o lado e viu um cara de terno e óculos escuros segurando um balde de pipoca e rindo do filme de comédia que passava na televisão.
- Adoro esse filme!
Então o cara de terno pegou o controle da tevê e a desligou. Ricardo se levantou depressa e deu uma boa olhada na cena: um estranho no sofá ao lado de um corpo. O seu corpo.
- Você... você é a morte? - indagou Ricardo, com a voz fraquejando, mas sentindo certo alívio.
- Bem, certamente não sou o Papai Noel. Sim, cara, sou o que vocês chamam de "morte".
- Graças a Deus! E você vai me levar?
- Ainda não. Aliás, acho que você tem visita.
Houve um barulho vindo da porta, como se alguém estivesse tentando arrombar. De fato, estava: e conseguiu na segunda tentativa. Ricardo sentiu-se ser puxado de volta para o próprio corpo. A bala não tinha ido para a cabeça, mas atravessado sua boca e espinha. Viveria mais um dia para ser infeliz, só que desta vez tetraplégico.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Sons.
O som do isqueiro acendendo um Marlboro
O som da respiração
O som do luar
(Silêncio)
O som de um olhar
O som da aproximação
O som de uma respiração ofegante no pescoço
domingo, 6 de maio de 2012
Antes de dormir.
Aí você sente aquele nó na garganta, fica encarando o teto do seu quarto e pensando no que diabos está acontecendo. Boceja, fecha o olho, tenta dormir. Fica rolando na cama até que desiste, levanta, vai tomar um copo d'água e acende um cigarro.
Fica encarando a cidade debaixo da janela e imagina o que aconteceu de errado. Qual cagada você fez dessa vez, se esqueceu de algo, se disse algo. Pensa em como sente falta daqueles momentos, mas não tanta falta assim. Lembra com carinho e tem maturidade para seguir em frente.
É que às vezes as coisas simplesmente não são para acontecer, com o perdão do clichê. É preciso saber tomar o rumo certo, não se prender a sentimentos que já não são mais compartilhados. É difícil, um dia passa. E você conhece outra pessoa. E acontece tudo de novo. E você acende outro cigarro, pede outra cerveja.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Suicídio.
Acho que suicídio talvez seja a melhor forma de morrer. Quer dizer, você decide hora, local, tudo. É algo que está no seu controle, na sua vontade. Talvez seja uma medida desesperada de quem não tem mais nada a perder, talvez seja uma forma de sair da mesa enquanto está ganhando.
De qualquer maneira, é algo para os corajosos. Neste caso, sinto-me um covarde. Gosto de saborear a vida como quem saboreia um bom vinho, assiste um bom filme, lê um bom livro, sente o prazer das pernas de uma bela mulher.
Gosto de respirar. Gosto de estar vivo e de errar, de apostar alto, sem saber se meu par de reis leva as fichas da mesa. Gosto de pisar no acelerador e só passar a marcha nos 7rpm. Gosto de arriscar, saber meus limites e quebrá-los. Gosto de viver sem imaginar como estarei daqui a cinco anos.
Ainda tenho muito o que viver e, quando eu estiver com meus 80 anos (se é que chegarei lá), ainda terei muitos vinhos para saborear, muitos filmes para assistir, muitos livros para ler e... bem, existe viagra para isso.
De qualquer maneira, é algo para os corajosos. Neste caso, sinto-me um covarde. Gosto de saborear a vida como quem saboreia um bom vinho, assiste um bom filme, lê um bom livro, sente o prazer das pernas de uma bela mulher.
Gosto de respirar. Gosto de estar vivo e de errar, de apostar alto, sem saber se meu par de reis leva as fichas da mesa. Gosto de pisar no acelerador e só passar a marcha nos 7rpm. Gosto de arriscar, saber meus limites e quebrá-los. Gosto de viver sem imaginar como estarei daqui a cinco anos.
Ainda tenho muito o que viver e, quando eu estiver com meus 80 anos (se é que chegarei lá), ainda terei muitos vinhos para saborear, muitos filmes para assistir, muitos livros para ler e... bem, existe viagra para isso.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Cigarro mata.
Acordou coberto de suor, atordoado, sem saber o que havia acontecido. Demorou uma fração de segundo até perceber que estava em sua cama e havia tido um pesadelo, não lembrava bem o que tinha sonhado, mas sentia-se com certa angústia.
Levantou-se, foi até a cozinha e tomou um copo d'água. Sentiu uma ponta de arrependimento por ter parado de fumar. Precisava desesperadamente de um cigarro. Havia parado há três dias, o último maço de Marlboro vermelho jazia em sua mesinha, vazio.
Colocou um jeans e a primeira camisa que viu. Precisava realmente de um cigarro a ponto de sair de casa às três da madrugada de uma quarta-feira. Trancou a porta e desceu as escadas com certa pressa. Caminhou três quarteirões até o bar do Nogueira. Lá sempre estava aberto e vendia cigarro.
Pediu um maço ao seu Nogueira, um senhor careca e de bigode grisalho, corpulento e baixo. Não tinha Marlboro, só Free. Detestava Free, mas era o jeito. Pagou com uma nota de cinco e recebeu uma moeda de troco. Guardou na carteira.
Tirou o isqueiro de prata do bolso - havia sido presente de seu tio - e o cigarro do maço. Acendeu enquanto andava pela rua, dando uma bela tragada. Um táxi furou o sinal vermelho.
Não houve uma segunda tragada.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Ao som de um violão
Não fazia a barba há três dias. O espelho do banheiro estava quebrado e sua mão cortada. A covardia ainda o impedia de fazer o que deveria ser feito. Na sua opinião a vida não havia mais sentido. Não, a vida fazia todo o sentido, mas não encontrava motivos para viver. O vinho já não tinha mais o mesmo sabor, nem sua pele o antigo desejo.
Pensava apenas numa pessoa. Precisava apenas de uma pessoa. Aquela com quem passou os momentos mais felizes de sua vida, aquela que lhe mostrou a felicidade de conviver a dois. Não se viam há uma semana. Uma última conversa e finalmente deixaria a lâmina de uma faca transpassar por seu pulso, com todo o vermelho saindo de seu corpo da mesma maneira que a felicidade lhe fugiu há uma maldita semana.
Sentado no sofá, aquele homem de cabelos pretos, com o desespero lhe vencendo, se chamava Zé.
Zé era um músico que cantava na noite, principalmente em barezinhos, com uma vida bohemia. Conhecia as músicas do Chico Buarque como ninguém. Em seu repertório não faltava Djavan, Toquinho e Cazuza. Sempre encontrou o conforto para seu desespero na música. Principalmente quando se tratava de sua vida amorosa. Mas nunca, em toda a sua curta história, ninguém decepcionou seu coração tanto assim. Uma última apresentação ainda seria necessária.
Se levantou do sofá, tomou banho, se arrumou, pegou as chaves do carro e logo dirigia para um barzinho que cantava toda terça-feira. Marcou com ele lá.
Banquinho, violão, pedidos de músicas em guardanapos amassados. As últimas notas de O Que Será, do Chico, foram seguidas por tímidos aplausos. A fumaça de cigarro, a cerveja que esquentava nas mesas, os risos das conversas cotidianas e aqueles que bebiam acompanhados de sua solidão.
Muitos afogavam as mágoas numa dose de uísque barato com muito gelo, Zé cantava suas mágoas ao som de um violão.
Pediu um intervalo ao público. Era a hora. Quando avistou Carlos numa mesa bebendo uma dose de Campari com limão, seu coração disparou. Se aproximou, sentou a sua frente e um nervosismo tentava lhe dominar. Deveria manter a calma, demonstrar que estava tudo bem.
- Como você tá, cara? - perguntou Carlos, no seu tom sutil, molhando os lábios com um gole no Campari.
- Tô bem. Tô ótimo. E contigo? - forçava uma calma assim como forçava um sorriso. Carlos o conhecia bem demais para saber o que se passava em sua mente.
- Cê sabe, Zé, minha vida profissional está indo muito bem.
- E amorosa? Tá saindo com alguém? - uma curiosidade pertubadora que o fazia falar merda. Não acreditava que estava sendo tão óbvio assim.
A quatro anos tocava naquele barzinho, há dois conheceu Carlos ali, naquela mesma mesa. Uma amizade que, no fim, se tornou muito mais que uma amizade. Um relacionamento que tinha tudo para dar realmente certo.
- Amanhã sai meu vôo para a Itália.
- Volta quando? - as respostas de Zé eram como reflexos, daqueles que sempre queremos nos livrar mas nunca conseguimos
- Não sei. Pretendo ficar lá até minha carreira se fixar.
Seus lábios começavam a secar. Agradecia aos céus por estar sentado, senão cairia de tão bambas que suas pernas estavam. As mãos com os dedos entrelaçados para não deixar que Carlos percebesse o quanto elas tremeriam se etivessem livres. E um silêncio começou a reinar naquela mesa.
- Mas vou vir sempre aqui para ver a família, amigos.
- Sei - disse Zé, num tom baixo.
- A gente podia se ver sempre. Como amigo.
"Claro", tentou responder. Não conseguia mais pronunciar palavras com mais de uma sílaba. Doía o silêncio que mais uma vez se arrastava até ali. Sem palavras. Sem saber o que fazer nem o que pensar. Esperou uma semana pelo maldito silêncio. As cordas do violão o chamavam.
- Tenho que ir, voltar a tocar. Adeus.
Carlos ainda abriu a boca para falar algo, porém, nada disse. Apenas escreveu com a Bic azul num guardanapo.
Preciso Dizer Que te Amo, do Cazuza. Foi a música que cantou ao ver seu grande amor pedir a conta. Cantando, seus pensamentos voavam. Talvez já pudesse desistir de viver sem arrependimentos, talvez fosse esperar um pouco mais para dar a última nota.
sábado, 31 de março de 2012
Ter. Tive.
Quando o verbo fica no passado, e no passado ficam os bons momentos. As lembranças que sobraram simplesmente dilaceram o dia-a-dia. O cigarro já no filtro e o uísque barato já no fim, a manhã rasgando a madrugada e o botequim fechando.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Bailarina
Ela tem raiva e alegria
Entre piruetas e coupés
Um sorriso de poesia
Ela só quer viver
Não é mais criança
É quase uma mulher
Dança, dança e dança...
Dança na ponta do pé
segunda-feira, 12 de março de 2012
Nem melhor, nem pior.
Não sou melhor do que você. Não sou pior do que você. Simplesmente sou o que sou e o que tenho que ser. Cumpro algumas obrigações e tento curtir um pouco no final de semana.
Não julgo as pessoas pelo que fazem ou o que pensam, cada um possui uma história e a conhece, cada um tem motivos de ser como é. Não sou um porra louca que "tenta provar a todo mundo que não precisa provar nada a ninguém", simplesmente vou vivendo, arcando as consequências dos meus erros e dos meus acertos. Única reputação que importa, para mim, é para com meus amigos - os verdadeiros, uns dois ou três -, o resto é resto.
Não sou nenhum Gandhi, não sou perfeito. Sipá, tenho mais defeitos que qualidades. Mas não fico por aí distribuindo receitas de felicidade e verdades absolutas sobre moral. Não tento fazer que todos pensem como eu para que o mundo seja um lugar melhor na minha concepção. Tenho uma idéia, se eu puder discutir e vender meu peixe, tá ótimo. Senão, nada melhor que uma discussão para amadurecer uma idéia. Não sou o detentor da razão.
Um crime na tevê. Uma mãe chorando o sangue do filho na calçada. Um repórter sensacionalista vendendo a desgraça alheia. E assim caminha a humanidade.
sábado, 10 de março de 2012
Às vezes tudo, às vezes nada.
Às vezes me sinto preso, às vezes me sinto livre. Às vezes simplesmente não sinto nada, só quero sair dirigindo pela madrugada e passar dos 120km/h, beber uma cerveja, acender um cigarro e pensar no dia que tive.
Às vezes penso em largar tudo, faculdade, casa, família, pegar um ônibus e me mandar para o mais longe possível. Às vezes só quero um pedaço do bolo de limão que a minha mãe faz e não sair de baixo do meu lençol em dias de chuva.
Às vezes quero o mundo, uma Ferrari e uma mansão em Malibu; às vezes só quero uma casa de pescador na beira da praia, passar o dia escrevendo poesia, uma fianga no alpendre e uma cerveja antes do almoço.
Às vezes penso que jamais vou casar, de como é boa a vida de solteiro; às vezes penso em encontrar um verdadeiro amor, ter dois filhos e um cachorro.
Às vezes quero tudo, às vezes quero nada. Só não quero meios-termos.
segunda-feira, 5 de março de 2012
Só mais um texto meloso.
Sou capaz de escrever uma história de amor; escrevo que quero uma história de amor. Mas, para falar a verdade, não sei bem o que é isso. Não é que eu seja incapaz de me apaixonar, simplesmente tenho medo: das responsabilidades, das decepções, das inseguranças. Alguns diriam que ter medo de amar é ter medo de viver, mas acontece que não se acha um amor em qualquer esquina.
Nunca vivi, de fato, um romance de novela das oito, desses que acontecem mil e um conflitos para que, no final, dê tudo certo. Eu sei, eu sei, já disse antes que sou inimigo dos finais felizes e blá, blá, blá. Mas que seja - com o perdão do clichê - eterno enquanto dure.
Todo mundo tem que viver um amor. Uma traição. Uma decepção. Fazer sacrifícios por alguém que goste. Pelo menos tenho certa vontade de fazer isso, fazer isso da maneira correta. Amar alguém de verdade e, quem sabe, até ser amado. Meio contraditório, eu sei.
Pensando bem, acho que sou mesmo um romântico. Que posso fazer? Ninguém é perfeito.
domingo, 4 de março de 2012
O amor é egoísta;
O amor é egoísta, não aceita compartilhar. Possessivo, não aceita olhares de desconhecidos. Ele é ciumento, cruel, te machuca. Onde há amor, não há sanidade. Quatro paredes podem se tornar um ninho de paixão, bem como um sanatório.
Quero para mim um pouco dessa loucura, saborear desse veneno como quem saboreia um copo de água gelada depois da sede; beber tudo num gole rápido e ainda pedir mais.
Quero passar o domingo assistindo as comédias românticas que odeio do lado de alguém, fazer uma pipoca, um brigadeiro e um suco de laranja. Reclamar de ter perdido o jogo do Corinthians e rir de piadas bestas.
Só quero um amor para chamar de meu, uma história para chamar de nossa.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Desejo
Quero estar ao seu lado
Quero viver a ousadia
O risco de um beijo roubadoUm amor de poesia
Quero sentir teu gosto
Teus lábios nos meus
Acariciar teu rosto
Escondido de Deus
Quero te sentir, te abraçar
Não temerei o inferno
Se for pecado te amar
Que me prendam a ferro
Continuarei te amando
Mesmo que sofrendo
Meu coração sangrando
Sem achar remendo
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Minha loucura.
Por vezes penso mil vezes e me mantenho na inércia, outras vezes (como diria a música) faço duas vezes antes de pensar. Talvez eu seja louco, talvez eu seja são até demais. Sou impulsivo em momentos da minha vida que requerem meditação; quando a situação pede uma atitude espontânea acabo congelando. É aquela questão de fazer a merda certa na hora errada.
Faço uma loucura ali e outra acolá. Tomo decisões de última hora das quais arcarei com as conseqüências pelo resto da vida. Me preocupo com coisas simples e não ligo para as coisas importantes. Às vezes pareço mais inteligente do que sou, ou mais burro do que pareço. Vai de como eu acordei e de como você me vê. Se um louco diz que não é mais louco, não passará de loucura aos olhos dos outros.
Não sou uma metamorfose ambulante, não mudo de opinião como quem muda de camisa. Posso rever meus conceitos e aprimorá-los, ou mesmo perceber um erro e tentar mudar. Eu simplesmente sou assim. Não tenho respostas e nem frases prontas para tudo.
Tenho medo de ficar louco de verdade, de me internarem num manicômio. Porém, tenho quase a certeza de que a minha loucura é a única coisa que me mantém a sanidade nesse mundo.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Refúgio.
Acendi meu cigarro. Mais um. Traguei a fumaça como a noite tragava o céu. O frio batendo na janela e o som da chuva quebrando o silêncio. Eu costumava gostar disso. Estar perdido nos corredores dos meus pensamentos. Minhas lembranças escondidas atrás de portas vermelhas. Frações de mim e de quem sou. O refúgio que ainda tinha, um refúgio para me esconder da realidade.
Enquanto meus passos ecoavam no enorme corredor, abri uma das portas. Uma especial, guardando uma das minhas lembranças preferidas. O cheiro de poeira e livros velhos encadernados em capas duras e de páginas amareladas. Aquilo me vinha à mente. Era meu esconderijo, atrás da estante de literatura francesa na biblioteca da escola.
A grande estante de metal era como se fosse uma muralha, meu castelo; Camus, Sartre, Molière, Dumas e Victor Hugo eram meus cavaleiros, soldados em alerta para me proteger ao menor sinal de perigo.
O toque findando o intervalo ecoava por toda a escola. A porta vermelha se fecha, sou tragado de volta à realidade. Apago meu cigarro. E continuo vivendo.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
A vida.
Sentado numa cadeira de plástico, na calçada de sua casa, apenas observava o movimento dos carros na rua. Cabelos brancos, lembrava-se do tempo de menino que tudo aquilo era terra batida.
Lembrava-se dos amores que houve ao longo de sua vida, de quando se é criança e a única preocupação que existe é ser flagrado espiando a vizinha tomar banho, lembrava-se de quando era jovem e o mundo parecia estar na palma de sua mão, e até quando já era adulto e estar com a mulher e os três filhos era a única felicidade existente.
Hoje era apenas um velho.
Imaginou como teria sido a vida se tivesse ido atrás do grande amor, não ter largado a faculdade para cuidar da família e hoje ser um homem bem sucedido.
Então o gosto dos bolinhos de carne que sua avó fazia lhe vieram à memória, de como sua mãe era preocupada e reclamava de ele estar magro demais.
O bigode de seu pai acima do sorriso amoroso.
O primeiro beijo, o primeiro amor.
A formatura de seus filhos.
A morte de sua mulher.
A vida. Apenas a vida.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Essa pequena.
Ela tem um sorriso singular, desses que é difícil de descrever com um punhado de frases prontas. Um sorriso de bailarina, como se fosse poesia, do qual não é necessário entender, apenas apreciar.
Sinto-me um navegador em águas desconhecidas, um desbravador do imprevisível. Sinto-me ansioso para conhecer o futuro, o final dessa novela.
Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas o blues já valeu a pena.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Falta.
Sinto falta do seu cheiro, do seu mau humor de quando acorda. Sinto falta do sexo, mas principalmente do depois, de quando tínhamos conversas intermináveis sobre tudo sem trocar uma palavra, apenas com o olhar.
Sinto falta de você adormecendo no meu peito, de acariciar seus longos cabelos e das brigas que tínhamos, fazendo as pazes entre juras de amor.
Sinto falta do nosso primeiro beijo, da nossa música tocando na rádio, dos dias de chuva na casa de praia, do cinema no domingo e do lanche na padaria.
Sinto falta de você. Sinto falta de nós.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Aurora
Aurora de outrora
No instante agora
O tempo perdido
Um amor de libido
Aurora de agora
No instante outrora
O tempo de libido
Um amor perdido
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Taxímetro: O Carioca
Já passava da meia-noite e eu não havia tido quase nenhum passageiro durante o dia todo. Como era domingo, eu ficava no meu ponto: a praia. À noite, na praia, vê-se um pouco de tudo. Gente de todo tipo fazendo todo tipo de coisa. Mas naquela noite São Pedro resolveu aprontar comigo, e caía uma puta chuva.
Eu já tava com meu nariz entupido e só piorou. Quando fui rodar a chave pra acionar a ignição e me mandar pra casa, entra um tipo estranho no carro com uma "mulher" que trabalha na noite. O filha da puta bateu a porta do meu táxi com força, a vontade foi de mandá-lo tomar no cu. Imbecil folgado, nem pra avisar que tava entrando no carro.
Com meu nariz entupido, cheio de catarro, a vontade era puxar tudo e dar aquela escarrada, mas não era o tipo de coisa que se faz na frente do passageiro.
- E aí, patrão, vai pra onde?
Ao perguntar, pensei que seria um bom momento de me reconciliar a Deus e rezei para que fosse um lugar perto, mas Ele devia estar realmente puto comigo, pois o passageiro, num irritande sotaque chiado de carioca, indicou um endereço do outro lado da cidade, na porra de uma favela.
- Podexá... - eu disse, engolindo minha raiva.
O ar-condicionado do carro deixava meu nariz ainda mais entupido, mas não tanto quanto o ódio pelo carioca viado.
- Olha aí, taxista - dizia o carioca, botando a mão na coxa da "mulher" -, lá só tinha traveco, essa aqui era a última mulher... É ou não é uma gostosa?
Olhei pelo espelho retrovisor. Me perguntei como o carioca conseguiria trepar cheirado do jeito que ele provavelmente estava. Ele devia estar tão louco que nem havia percebido que a "mulher" que ele tinha pegado não era tão mulher assim. Não provoquei, turistas, ainda mais os imbecis, dão boas gorjetas.
- Se você tá dizendo, chefe, é porque deve ser.
Carícias e beijos eram trocados no banco de trás do meu táxi. Não falei nada, mas se partissem para algo mais indecente eu corresponderia na violência. Foi aí que vi, pelo retrovisor, algo brilhando na cintura do carioca. O filha da puta tava armado. Deus devia mesmo estar muito puto comigo.
Tinha dado R$43,74 no taxímetro quando cheguei na entrada da favela. E ali eu não era bem-vindo. Outra história que depois eu conto. O carioca desceu sem pagar, e eu com o cu que não passava um fio de cabelo. Se eu cobrasse ele metia bala em mim, se eu não cobrasse seria muita desmoralização. Aí o cara botou a cabeça na janela e disse:
- Taxista, segura aí e deixa o taxímetro rodando, me espera que em 20 minutinhos tô de volta. Não sai daí!
Não respondi, ele deu as costas e entrou na favela. Subi os vidros, rezando para que ninguém dali me reconhecesse. Foi aí que ouvi aquele barulho fazendo eco, o velho barulho de uma .38 sendo disparada. Liguei o carro, eu não ficaria ali mais nem um minuto. Engatei a ré, quando vi o carioca correndo em direção ao meu táxi. Ele parecia realmente puto, entrou no carro antes que eu pudesse ter reação e bateu com força a porta.
- Bora taxista, se manda daqui, se manda daqui!!!
Acelerei e me mandei pela rua, quebrei na avenida cantando pneu e saindo em disparada, cagando para os foto-sensores.
- Que merda foi essa, porra!? -perguntei, gritando e nervoso.
- Aquela... aquele... aquilo não era mulher! Porra, aquilo tinha um pau do tamanho de um elefante! Era um traveco! E nem pra avisar, caralho!!
Me calei, engolindo a raiva e o nervosismo. Tentei esfriar. A porra do carioca tinha passado o traveco, para passar o taxista não custaria nada. Foi aí que a porra toda ficou mais confusa. Ele tirou do bolso uma carteira com distintivo da Polícia Federal. Tirou uma balinha de pó e um cartão, preparou uma carreira na carteira e cheirou.
- Eu te levo pra onde, chefe? - perguntei.
E o filho da puta não respondeu, me deixando na merda. Como ele tinha sentado no banco de passageiro da frente, não tinha nem como eu tirar meu canhão do porta-luvas. O melhor era não fazer nada, só dirigir para longe da favela.
- Pára aqui, taxista - disse ele, uns cinco minutos depois.
Enconstei o carro e o carioca desceu. Estava em frente a uma boate, dessas que só barão freqüenta. Fiquei observando, sem nada fazer. Ele sacava a arma e a carteira de identificação de policial. Mostrava para um casal. O rapaz até fez menção de fugir, mas mudou de idéia ao ter a arma apontada para si. O filha da puta do policial revistou o rapaz e achou pó com ele. Deu-lhe um golpe com o cabo da arma que desmaiou. Para completar, arrastava a jovem para dentro do meu táxi. Ela era loirinha, linda.
Com o namorado desmaiado com o nariz quebrado no chão, a garota chorava ao ter seus cabelos puxados. Dessa vez o carioca entrou pelo banco de trás arrastando a menina. Me mandou ir para um motel que era conhecido na cidade. Lá acontecia coisas que nem o mais pervertido lunático conseguiria imaginar.
Atravessei mais uma vez a cidade, não havia trânsito, cheguei rapidamente sem problemas. Por fora, podia-se ver apenas o que parecia um armazém abandonado. O carioca desceu, dessa vez falou que eu podia ir e ainda me deixou cinco notas de R$100 novinhas. Vi-o descer arrastando a garota, batendo na porta do armazém e entrando. Quando a porta se fechou, passei a primeira e saí dali.
Passei por uns 5 quarteirões, no sexto encostei o carro. Sempre fiz merda por culpa da minha consciência, e aquele parecia ser mais um daqueles momentos que temos a mais absoluta certeza que nos arrependeremos pela possibilidade de dar merda. Desliguei meu táxi, abri o porta-luvas e tirei a minha tímida .32 e a coloquei presa no meu cinto. Saí do carro, fui até o porta-malas e tirei um punhal, um casaco e uma camisa. Amarrei a camisa no rosto e guardei o punhal no outro bolso da minha calça.
Caminhei os malditos seis quarteirões até chegar no armazém. Dei uma batida e um negão vestido só com uma calça de couro abriu a porta. Parecia ser a única pessoa a fazer a segurança dali, lhe apliquei um belo chute no joelho que ele não teve reação. Acertei bem em cheio, a junta do joelho dele voltou. Fratura com osso exposto. Ficou lá, agonizando no chão. E mais ninguém apareceu.
O local era sinistro pra caralho, tinha um grande corredor com vários quartos. Não tinha portas, era tudo muito escuro. Chicotes acariciando peles, gritos de dor e outros gritos xingando. Gente com máscara de couro e piroca de borracha enfiada na bunda. Era o canto mais sinistro que eu podia passar a minha vida sem entrar. Ninguém ligava para a minha presença ali, só ligavam em continuar suas coisas pervertidas.
Como não havia portas, logo foi fácil achar o carioca. Ele tinha amarrado a loirinha na cama, ela estava desmaiada com um pedaço de vassoura enfiado nela. Mas ela parecia respirar. O carioca estava de costas, só percebeu minha presença quando lhe toquei o ombro. O peguei no susto, foi fácil acertar um direto que quebrou o nariz dele e o fez dar uns passos para trás. antes que ele sacasse sua arma, saquei a minha: três tiros no saco dele. Ele caiu. Acertei mais dois tiros, um em cada mão. Agora o carioca, que se achava tão esperto, apenas gritava e xingava, como tantos outros ali.
Eu tava com pena da garota. Ela não deveria ter mais que 17 anos e passava por aquilo. Fiquei ainda mais puto com o viado capado do carioca. Tirei meu punhal e cortei as cordas que a prendiam na cama, tirei o cabo da vassoura que estava enfiado nela e a botei no ombro, levando-a pela rua deserta até o meu táxi. A coloquei no banco de trás e acelerei para chegar ao hospital. Deixei-a na recepção da emergência, não respondi a pergunta alguma e me mandei dali.
E a porra do meu nariz continuava entupido.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Moribundo
O cigarro já estava no filtro
Sua dose acabando
O dia amanhecendo
E o bolero no fim.
Aproveitava seu dia
Como se fosse o último
Só, sem pressa.
Acendeu outro cigarro
Observou suas lembranças
E pensou que talvez
Que apenas talvez
A vida tivesse valido a pena.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Coisas da vida.
Havia chovido no fim da tarde, o que fazia daquela noite especialmente agradável, pois o cheiro de chuva se mantinha no ar. Parecia mais um sábado qualquer, quando o tédio bate e você não tem outra opção a não ser ir ao mesmo lugar de sempre, beber com seus amigos e jogar conversa fora.
E lá estava eu, naquele antro de pessoas "alternativas", pessoas de preto e com camisas de banda de rock. Por falar nisso, eu estava com a minha camisa do Matanza. Foi lá que eu a conheci. Ela não estava com uma camisa de banda de rock, mas uma camisa xadrez. Tinha uma pele clarinha, que dava um contraste bonito com seus cabelos muito pretos. Mas o que havia me chamado mesmo a atenção eram aqueles olhos. Ela possuía grandes olhos bonitos, um sorriso desses que te prende. Comprei uma cerveja, dei uns goles, tomei coragem e me aproximei.
Mas o que diabos eu iria falar? Pensei rápido. Tirei minha carteira de Marlboro e perguntei a ela se tinha fogo. Ela tirou um isqueiro Bic azul do bolso e me deu. Trocamos olhares, ela sorriu, eu sorri enquanto dava uma tragada no meu cigarro. Devolvi o isqueiro. Puxei assunto. Entre uma cerveja e outra, nos conhecemos.
Os cigarros dela acabaram, ofereci do meu. Nos sentamos. Tínhamos gostos em comum, gostávamos dos mesmos filmes, das mesmas músicas, torcíamos para o mesmo time.
No fim, descobri que também gostávamos do mesmo tipo de mulher.
Comprei outra cerveja, dei um belo gole e pensei: "que desperdício, meu Deus!".
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Sou um chato.
Por vezes tenho a necessidade de expressar o que penso. Sou vaidoso, gosto que prestem atenção no que digo e que me dêem razão. Se alguém discorda, fico feliz, posso debater a idéia e amadurecer minha opinião. Se alguém me respeita e me admira por algo que digo, eu desprezo. Se alguém me provoca, provoco de volta.
Quero escrever o que penso; e escrevo! Quero provocar as mais variadas sensações nas pessoas, tirar uma lágrima, um meio sorriso no canto da boca, uma ponta de revolta. Quero incomodar a todos que estão ao meu redor. Não é por nada que eu digo: sou um mestre na arte da inconveniência.
E se você gosta de finais felizes, não leia meus textos. Sou o inimigo dos finais felizes, o vilão das donzelas em perigo, o dragão que guarda o castelo.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Quando simplesmente não há o que dizer;
Quando o silêncio é a melhor solução dentre as palavras incertas e o simples olhar já diz tudo o que é preciso. Economiza-se a saliva que poderia ser usada num beijo, com línguas entrelaçadas. Nojento, sem sentido, gostoso.
Palavras, pessoas, sentimentos.
domingo, 22 de janeiro de 2012
Ordem e outras coisas.
Em algum momento da escala evolutiva, alguns animais que formavam grupos possuíam mais chances de sobreviver. E assim foi com os humanos.
Entre a pré-história e a história houve uma sociedade primitiva, na qual imperava o coletivismo. Cada um tinha seu nicho no grupo. Era uma sociedade patriarcal, que, como a própria espécie, passou a evoluir. De repente havia um líder na sociedade, alguém que comandava o grupo e determinava funções.
Em algum ponto ficou claro que a sociedade precisaria de disciplina e uma autoridade rígida para manter a ordem. E o nicho que cada pessoa tinha passou a ser mercadoria de troca. Em outro ponto da história nasceu o "dinheiro". Milhares de anos, séculos depois, eis o iPod.
Um leão não é violento, ele ataca sua presa pela comida e mantém o equilíbrio na cadeia alimentar e na ordem natural das coisas. O homem não "dominou o mundo" por ser mais forte que um leão, mas por ser adaptado o suficiente para criar uma faca de pedra, uma lança, um punhal, um revólver, uma metralhadora.
De repente a sociedade percebe que precisa de regras para que se mantenha a ordem. Leis. O ser humano é violento em sua natureza. Dente por dente, olho por olho. Para manter a ordem, eis a violência. Não apenas a física, mas a moral, aquela capaz de tirar a dignidade da pessoa. Claro que dignidade e moral são conceitos modernos; que nós, humanos, já fomos mais truculentos, basta ver a história, mas tente acompanhar meu raciocínio.
A violência faz parte de cada um de nós. Está em nosso gene. Basta uma oportunidade, um dia ruim, para que um Dalai Lama se transforme num Mr. Hyde. A violência faz parte da ordem e do equilíbrio da sociedade, bem como o medo. O medo é um de nossos principais aliados na seleção natural. Pois com o medo vem o instinto de auto-preservação, eis, por vezes, a necessidade da violência.
Na sociedade moderna, a ordem se estabelece no caos que nós mesmos criamos. Ela se molda e se adapta. E você me pergunta: "que caos?". Aqui no Ceará, a Polícia Militar entrou em Greve por poucos dias. O Governador decretou estado de emergência e o exército teve que intervir pela segurança da população, o que não quer dizer grande coisa, mas é melhor do que nada: arrastões e delitos aumentaram consideravelmente, no qual marginais andavam armados em plena luz do dia, o comércio fechado e as ruas desertas.
Deste caos que estou falando. O caos urbano em que o excesso de ordem e autoridade marginalizaram um grupo, dividindo-os em periferias e classes sociais que, fora do controle, é a cada dia mais necessária a presença de autoridade e "segurança" para proteger os "cidadãos de bem". A ordem não se trata de acabar com a violência, mas mantê-la sob controle.
A sociedade só será verdadeiramente civilizada quando não precisarmos mais de polícia, governo, autoridades e utopias. Quem sabe a humanidade continue evoluindo até chegar lá, quem sabe ela se destrua antes. De qualquer modo, não estarei lá para ver.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
O Tempo.
Eu pensava que era besteira quando diziam que o tempo curava tudo. Mas aí o tempo passa e a distância mostra que é possível esquecer alguém. Não esquecer completamente, pois cada pessoa com que cruzamos na rua faz parte da nossa história e de quem somos, que dirá um grande amor, mas pelo menos paramos de pensar nela 24h por dia. O tempo pode não curar, mas alivia aquilo que já foi sentido.
Acho que uma paixão está curada quando vemos a pessoa com outro, feliz, e acabamos felizes por ela estar feliz. Esquisito? Acho que sim. É mais ou menos quando sorrimos ao vermos alguém sorrindo. Mesmo que aquele desejo, aquele beijo que não aconteceu, continue guardado no nosso íntimo. Resquícios de uma paixão morta.
A vida anda. E ter uma desilusão amorosa aos 16 ou 17 anos não é o fim do mundo, por mais que pareça. Quer queira, quer não queira, acabamos amadurecendo. Enxergamos a vida e as pessoas com outros olhos, talvez com mais sensatez. "Se eu tivesse dito isso naquela hora teria sido diferente", pensamos. "Talvez se eu tivesse me arriscado mais". Bate aquela vontade de voltar no tempo, mas acontece que aprendemos com nossos erros. E não há melhor professor que a vida.
Muito menos clichê maior que o amor.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Dicas de filme
Bem, primeiro post do ano e me deu uma vontade de postar uma lista de filmes que mudaram meu jeito de ver. Talvez vocês já tenham assistido alguns ou a maioria, mas então, aí vai...
- Os Edukadores (Die Fetten Jahre Sind Vorbei)
- O Albergue Espanhol (L'Albergue Espagnole)
- O Corte (Le Couperet)
- A Onda (Die Welle)
- Oldboy
- Sem Controle
- Cães de Aluguel (Reservoir Dog)
- Casablanca
- Fale com Ela (Hable con Ella)
- O Grande Ditador (The Great Dictator)
- Cidadão Kane (Citizen Kane)
- Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds)
- Árido Movie
- O Que É Isso, Companheiro?
- Batismo de Sangue
- Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich)
- Má Educação (La Mala Educación)
- Requiem Para Um Sonho (Requiem for a Dream)
- O Lutador (The Wrestler)
- O Quarto Poder (Mad City)
Enfim, estes são apenas uns dos poucos filme que me marcaram muito, depois eu posto mais alguns, que se eu fosse colocar todos de uma só vez, seria o resto do dia na frente do computador.
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